Mosaico de Docência

Mosaico Docente – Dr. Prof. Gilberto Sousa Alves

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Gilberto Sousa Alves
Professor Adjunto de Psiquiatria
Faculdade de Medicina

Suicídio: verdades e mitos

         O termo suicídio deriva do latim sui (próprio) e cidium (matar) e é genericamente compreendido como o ato intencional de matar a si mesmo. O suicídio é um problema de importância crescente na saúde pública, gerando repercussões psicológicas, econômicas e sociais de enorme impacto. A interpretação do suicídio ao longo da história das civilizações tem sido objeto de interesse de diferentes pontos de vista, como o religioso, filosófico e sociológico. Nos primeiros séculos de cristianismo, era interpretada de forma neutra ou mesmo valorizada, embora, algum século mais tarde tenha passado a ser considerado um grave pecado – o suicida não era enterrado com outros cristãos; segundo as tradições do judaísmo, o ato de tirar a própria vida é visto como uma ofensa a Deus e o suicida também é enterrado em uma ala reservada. Foi somente com o movimento iluminista, que o suicídio passou a ser tratado como assunto de saúde. Para se ter uma idéia, somente em 1961 a Inglaterra passou a descriminalizar o suicídio. Ainda hoje, o tema ainda é vista como tabu, inclusive na formação médica, sendo pouco debatido e investigado.

Epidemiologia e impacto econômico do suicídio

         Classicamente, as tentativas de suicídio costumam ser mais frequentes entre mulheres, embora homens tenham cerca de 3 vezes mais o êxito letal, isto é, consigam chegar à morte após um menor número de tentativas – em geral, mais violentas, envolvendo o uso de armas de fogo ou o enforcamento. Dados populacionais de 1998 mostram que 62% dos Homens morrem na primeira tentativa, em oposição à 38% das mulheres.

         Em termos populacionais, observam-se dois picos de aumento nas tentativas de suicídio ao longo da vida. Uma por volta do final da adolescência, entre 18 e 23 anos e a segunda entre a 5a e 6a décadas de vida (ou seja, entre os 40-50 anos de idade). Em cerca de 95% dos casos, o suicídio tem relação com um transtorno mental subjacente, ou seja, uma condição psiquiátrica de base, que atua como um elemento propulsor tanto da ideação como do ato suicida. Estudos mostram inclusive uma maior relação entre suicídio e gravidade do transtorno mental. Estima-se, por exemplo, que nos EUA menos da metade dos indivíduos com depressão faça corretamente o tratamento antidepressivo medicamentoso. Segundo dados de 2002, o suicídio leva a cerca de 870.000 mortes por ano, representando 49% das mortes por causas externas. No Brasil, na faixa etária de 15 a 30 anos, é considerada a segunda maior causa de morte, perdendo apenas para os acidentes automobilísticos.

Suicídio na Sociologia                                                                     

         Entre os estudos clássicos de suicídio está o de Émile Durkheim, cientista político e filósofo francês. Para Durkheim, o suicídio tem relação muito próxima com a constituição das sociedades modernas e com fenômenos como o maior afrouxamento dos laços sociais, as crises econômicas e o individualismo crescente. Curiosamente, algumas das teses de Durkheim tem se confirmado ao longo do tempo. Menores taxas de suicídio são encontradas entre pessoas casadas, com emprego fixo e com alguma religião. Ter laços políticos, esportivos também está relacionado à redução da prevalência de suicídio.

         Do ponto de vista psicológico, diversos aspectos guardam relação com o risco aumentado de suicídio e podem servir como pista para esta condição. Por exemplo, traços de maior impulsividade, agressividade ou sentimentos de desesperança, desamparo ou sofrimento psíquico intenso. Pessoas vivenciando doenças graves, como neoplasias, doença de Alzheimer ou epilepsias podem se tornar mais vulneráveis para o risco de suicídio.

Causas potenciais de suicídio no Brasil

         Segundo dados da literatura médica, as causas mais comuns de suicídio envolvem os transtornos do humor – como a depressão ou o transtorno bipolar, a esquizofrenia e transtornos relacionados, os transtornos da personalidade (emocionalmente instável ou tipo borderline), pacientes em tratamento para condições médicas dolorosas crônicas e pacientes com HIV.

         No exame médico, é importante estar atento ao histórico do paciente. Por exemplo, se há histórico familiar de suicídio ou tentativas de suicídio prévias. É bastante conhecido no meio médico o caso da família Hemingway. Ernest Hemingway, ganhador do premio Nobel de literatura e autor de obras como ‘Por quem os Sinos Dobram’ e ‘O velho e o Mar’, pôs fim à própria vida em 1961, com um tiro de arma de fogo, da mesma forma o pai o fizera décadas antes. Anos mais tarde, uma de suas netas, Margot Hemingway, viria a morrer também por suicídio. Esta sequência de eventos familiares, não raro testemunhada por psiquiatras no dia a dia clínico, aponta para uma provável influencia da genética na ocorrência deste fenômeno.

Genética do suicídio: várias evidência em favor, algumas perguntas ainda sem resposta

         Estudos de hereditariedade mostram, por exemplo, que a concordância para tentativas de suicídios entre gêmeos monozigóticos (isto é, com o mesmo material genético) varia de 12 a 13,4%, em contraposição à prevalência de apenas 2% em gêmeos dizigóticos (isto é, com material genético diferente). Em outro famoso estudo com 62 gêmeos monozigóticos, 6 pares ou aproximadamente 10% deles tentaram suicídio. Cerca de seis genes envolvendo o transporte ou a receptação da serotonina estão envolvidos na maior parte dos casos de suicídio, embora seu papel não seja plenamente conhecido: o TPH, SERT, 5-HT1A, 5-HT1B, 5-HT2A e MAO. Outro estudo de 2003, que seguiu 1037 crianças até os 26 anos, constatou uma maior vulnerabilidade para depressão e suicídio naqueles com gene alelo curto da proteína transportadora de serotonina, sendo os homozigotos para alelos longos os com menor vulnerabilidade aos mesmos eventos, e menor susceptibilidade a eventos estressores.

         Além destas evidências, outros estudos têm apontado uma maior suscetibilidade ao suicídio para pessoas com ativação endócrina (ou hormonal) alterada. Um exemplo é a hiperativação (ou ativação anormal) do chamado mecanismo de luta e fuga, uma reação hormonal em cascata que é ativada sempre em situações de grande estresse e adrenalina. Desde o homem nômade de milhares de anos atrás até hoje, este mecanismo tem importância na liberação da adrenalina corporal e na ativação cardíaca e muscular do organismo, no objetivo de prepará-lo para uma rápida resposta a ameaça do meio. Alguns estudos demonstram um risco até 14 vezes maior para o suicídio em pessoas com maior ativação do eixo hipotálamo hipófise adrenal (HPA), responsável pelo mecanismo de luta e fuga. Obviamente, a interpretação deste dado requer cautela, pois isoladamente não garante e nem exclui o maior risco para o suicídio.

Suicídio e estigma

         Uma das importantes causas de aumento dos casos de suicídio e também de suas repercussões negativas é o fenômeno de estigma. O estigma neste contexto pode ser compreendido como um conjunto de concepções equivocadas a respeito do que é o suicídio, de suas causas potenciais o que pode ser feito para evitá-lo. Para combater o estigma, é muito importante a comunicação clara e aberta dos profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais – com a comunidade. Em muitas ocasiões, o temor do profissional ou da própria família de conversar com o paciente sobre pensamentos de morte, planos de tirar a própria vida ou tentativas prévias de suicídio, sob a justificativa de que falar sobre o assunto estimularia o paciente a pensar a respeito de sua própria morte, é um dos equívocos mais comuns no dia a dia do atendimento. Na realidade, tanto a família como o próprio profissional devem estimular o paciente a expressar seus temores e fantasias a respeito do tema, para que ele (paciente) se sinta encorajado a buscar ajuda sempre que necessário. Um exemplo: um sujeito que deseja tomar medicações para ficar inconsciente e livrar-se de toda a angústia e sofrimento, deve ser ouvido de forma compreensiva e acolhedora. Críticas e julgamentos morais, nestas situações, devem ser sempre evitadas. Por outro lado, é absolutamente indispensável que estas informações sejam repassadas aos profissionais que atendem este paciente, para que todas as medidas protetivas – inclusive o uso de medicações, a avaliação quanto à necessidade de internação hospitalar e outras – sejam implementadas.

Implementando estratégias de prevenção do suicídio

         Em alguns países do mundo, maiores taxas de sucesso no enfrentamento do suicídio têm sido obtidas com a adoção de estratégias mais agressivas. Na Inglaterra, a título de exemplo, um dos eixos da prevenção é o tratamento rápido e eficaz da depressão. Também no Reino Unido, dados de 2013 demonstram que o uso do Lítio – uma medicação frequentemente empregada no transtorno afetivo bipolar – tem se correlacionado a menor taxa de suicídios em jovens com distúrbios do humor. O uso da clozapina, uma medicação empregada em transtornos psicóticos, esteve associada a uma redução de até 25% nas tentativas de suicídio em pacientes com esquizofrenia.

         No Brasil, embora haja a cada ano 100-200 mil tentativas de suicídio e 9 mil pessoas mortas por esta condição, as ações governamentais voltadas à prevenção do suicídio ainda são pouco coordenadas e carecem de evidência científica que sustentem os programas implementados.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), medidas individuais e coletivas são necessárias e algumas podem ser didaticamente citadas:

  • Tratamento dos transtornos mentais de base;
  • Controle da posse de armas de fogo
  • Desintoxicação do gás doméstico
  • Controle do acesso a substâncias tóxicas (crack, maconha, álcool, veneno para rato)
  • Reportagens cuidadosas na imprensa sobre o suicídio
  • Disponibilidade para assistência à saúde física e mental
  • Presença de laços afetivos duradouros com a família e organizações sociais
  • Suporte psicológico e social para indivíduos em risco, por exemplo, pessoas que sofreram violência física ou sexual

Conclusões

         O suicídio é um problema de saúde grave, de importância crescente e com grande repercussão social, psicológica e econômica. Em pelo menos 90% dos casos, pode-se identificar um transtorno psiquiátrico de base, o que nos leva a concluir sobre a necessidade de políticas públicas voltadas para a identificação precoce de pessoas com sofrimento emocional. As ações de saúde devem compreender medidas individuais e coletivas, dentre elas a maior oferta de serviços de saúde mental (ambulatórios específicos para pessoas com ideação ou intenção suicida), a avaliação do risco de suicídio, da gravidade do transtorno mental, das condições de suporte psicológico e social pela família e do grau de acesso do paciente a meios letais (armas de fogo, substâncias tóxicas). Também fazem parte destas medidas o combate ao estigma, através da divulgação na mídia sobre os principais transtornos mentais, suas manifestações mais comuns e as formas de tratamento.

Sugestões de leitura

1. Conselho Federal de Medicina. Cartilha Suicídio: Informando para prevenir. Acesso no link http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14#page/6

2. Botega, N. Suicídio: saindo da sombra em direção a um plano nacional de prevenção. Rev Bras Psiquiatr. 2007;29(1):7-8 .

Mosaico de Docência – Dr. Prof. Gilberto S. Alves

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AUTOR – Gilberto S. Alves, MD, PhD
Pós doutor em Psiquiatria – Goethe Universität
Professor Adjunto – Faculdade de Medicina – UFC

 

 

 

O que é a síndrome de BURNOUT?

 

O burnout é uma síndrome relacionada a exposição prolongada ao stress no ambiente profissional. O transtorno não é categorizado pelo Manual de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria(DSM-5), embora haja propostas para a elaboração de um diagnóstico específico. Já na Classificação Internacional das Doenças (CID-10), da Organização Mundial de Saúde (OMS), está listada entre as categorias ligadas no manejo da vida cotidiana (Z 73). Envolve sobretudo profissões de risco, como médicos, enfermeiros, aviadores, policiais, bombeiros, militares.

Dentre alguns fatores de risco conhecidos na literatura, estão as mudanças no ambiente de trabalho, principalmente a maior competitividade, mas algumas situações, como o assédio psicológico, podem ser desencadeantes. Como todo transtorno mental, a vulnerabilidade biológica, ou predisposição biológica ou genética, cumpre um papel importante. Além disso, fatores ligado ao temperamento e personalidade tem recebido atenção progressiva nas pesquisas mais recentes. Podemos conceituar de maneira mais simples o temperamento como um traço mais inato do comportamento humano. Por exemplo, quando observamos na maternidade o comportamento dos bebês, vemos que há aqueles que choram mais alto e os que dormem mais tempo. Ao longo dos meses, estas diferenças continuam a serem observadas;alguns bebês estranham com maior frequência pessoas estranhas, enquanto outros sorriem e parecem mais sociáveis ao contato. Por outro lado, a personalidade pode ser entendida como a soma das características do temperamento e a influência ambiental, como a educação, as experiências de vida, os estímulos da infância, etc. Um terceiro elemento importante para o desenvolvimento do burnout diz respeito aos chamados mecanismos de proteção ou resiliência, também conhecido como coping. Estes mecanismos funcionam como fatores protetivos e de enfrentamento à situação de stress e envolvem a mobilização de recursos psicológicos do próprio indivíduo.

As principais dimensões do burnoutsão a exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização profissional. A exaustão emocional, como sugere o próprio nome, é sensação de esgotamento psicológico, em geral acompanhada de intensa ansiedade, irritabilidade e angústia, por exemplo, quando o indivíduo no trabalho reage de maneira descontrolada e intensa a uma nova demanda de seu chefe ou ao excesso de pessoas a serem atendidas em uma repartição pública. A despersonalização, também conhecida como cynicism, pode ser compreendida como um sentimento de indiferença ou distanciamento afetivo frente aos elementos de stress do ambiente. Por exemplo, quando pessoas vítimas de assédio moral ou bullyingem uma reunião com seu chefe de trabalho deixam de manifestar, de exibir o intenso sofrimento psicológico como a angústia, choro, sensação de coração apertado, e passam a se comportar de forma mais fria ou indiferente. Longe de ser considerado um mecanismo saudável de enfrentamento psicológico, o cynicism pode esconder um intenso sofrimento psicológico reprimido pelo indivíduo. Por outro lado, a baixa realização profissional implica em um sentimento de baixa atração ou interesse pelo trabalho, como se esta atividade perdesse o sentido e importância na vida do indivíduo.

Como diferenciar o Burnout de outros problemas de saúde mental?

Para que o burnout possa ser identificado de forma mais confiável, dois fatores precisam ser levados em consideração. O primeiro deles é a elevada prevalência de transtornos mentais na comunidade, sobretudo o que se conhece na psiquiatria como transtornos do humor. Evidências de estudos populacionais estimam a prevalência dos sintomas depressivos em 15% e a presença de depressão maior em 1 a 3%. Aprevalência de transtornos de ansiedade ainda pode ser considerada mais comum e está em torno de 18 a 30%. É preciso lembrar que boa parte das pessoas portadoras destes transtornos ocupa posições ativas e não faz, nem nunca pensou em fazer algum tratamento em saúde mental.

Outro aspecto pertinente são os custos financeiros gerados pelos problemas psiquiátricos, entre eles o absenteísmo no trabalho, principalmente quando diagnosticados tardiamente. A psiquiatria responde sozinha por 10% dos encargos econômicos por saúde; a depressão, por 1,5% dos encargos, segundo dados da própria OMS, (Harvard University, Murray & Lopez, 1996). Daí a enorme importância de se buscar treinar os profissionais que integram equipes de saúde em empresas ou repartições públicas, sobretudo médicos, assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos para o diagnóstico e acompanhamento destas condições clínicas, sobretudo nos grupos de risco, como é o caso de muitos funcionários com problemas na frequência e produtividade no trabalho.

 

Modalidades de tratamento na síndrome de Burnout

Uma vez que o diagnóstico é estabelecido, diversas modalidades de tratamento podem auxiliar o trabalhador que sofre com sintomas emocionais e comportamentais. Logicamente, é importante que o profissional esteja preparado para o adequado diagnóstico do burnout, já que esta síndrome pode ser confundida facilmente com quadro depressivos ou de ansiedade, ou em geral, os fatores estressores são menos determinantes para a persistência dos sintomas. De forma mais resumida e didática, podemos dividir o tratamento do burnout em estratégias farmacológicas e não farmacológicas. Antes de ir direto ao tema, é importante que o médico ou profissional responsável pelos atendimentos de funcionários desenvolva uma rede de encaminhamento efetiva. Ter contato com psiquiatras, psicólogos ou outros profissionais de saúde mental é importante para que o encaminhamento seja efetivo, direcionado e tenha mais chances de se transformar em um tratamento bem sucedido. Dito isso, as estratégias medicamentosas envolvem o uso de medicações antidepressivas e para a ansiedade, insônia ou qualquer outro sintoma correlato. No contexto do tratamento, é importante que o paciente receba a informação devida a respeito da indicação da medicação, potenciais efeitos colaterais e o resultado esperado, bem como dos riscos em relação ao não tratamento. Um dos muitos mitos que precisam ser desfeitos no inicio do tratamento é o de que o pacienteficará para sempre dependente da medicação. Prometo voltar a este tópico em publicações futuras neste blog, já que é necessário discorrer mais amiúde sobre o tema. Em resumo, é importante que se esclareça que ninguém fica pelo resto de sua existência dependente de qualquer medicação disponível comercialmente para uso como psicofármaco.

Em relação ao manejo não medicamentoso do burnout, diferentes abordagens estão disponíveis e a psicoterapia, ou acompanhamento psicológico, talvez seja a mais conhecida delas. Existem diferentes modalidades (ou escolas teóricas) de psicoterapia e é fundamental que o paciente receba orientações a respeito destas modalidades, para que possa com maior liberdade, escolher aquela com a qual se sinta mais identificado. Uma das abordagens psicológicas mais conhecidas é a teoria cognitiva comportamental. Nesta técnica, o paciente pode aprender a identificar pensamentos recorrentes (também conhecidos como distorções cognitivas) e que influenciam a ocorrência de sintomas, agravando a sua ansiedade. Um exemplo: ao sentir uma leve opressão no peito, o paciente pode desencadear uma série de pensamentos catastróficos, como será que estou enfartando?Tais pensamentos, por sua vez, podem acentuar o fluxo de pensamentos negativos, levando o paciente a desenvolver mais temores e preocupações ou a ter de vez a convicção de que está mesmo enfartando.

A maior difusão da informação nas mídias eletrônicas também tem permitido o uso em diversas empresas de escalas de avaliação do humor e comportamento, por exemplo, o inventário Maslach de Burnout, cuja versão em português pode ser acessada facilmente na web. As escalas tem entre outras vantagens, a facilidade no uso e interpretação, sendo um instrumento importante para o rastreio de pacientes e para decisões quanto ao diagnóstico e tratamento, embora evidentemente, não substituam à altura uma boa avaliação clínica.

Mais recentemente, algumas empresas brasileiras tem investido na formação de grupos de discussão e manejo de situações de trabalho difíceis. Nestes grupos, os profissionais são encorajados a expor suas dificuldades emocionais, frustrações e temores relacionados ao ambiente de trabalho. Uma das grandes vantagens dessa técnica é a oportunidade de compartilhar experiências e dificuldades, trabalhando o sentimento de empatia (isto é, de se sentir ouvido e levado em consideração sobre suas queixas), cooperação e motivação (é possível transpor barreiras até então inimagináveis no enfrentamento de situações estressoras). Mais recentemente, uma técnica que mistura elementos do budismo, transcendentalismo e psicologia – o mindfulness– ou atenção plena, tem sido difundida como uma estratégia eficiente para o controle dos sintomas físicos e psicológicos de ansiedade.

Em resumo, o burnout é uma síndrome clínica caracterizada por sintomas do humor importantes e três dimensões principais – a exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização emocional. Hoje o burnout é um importante problema de saúde, relacionado à piora da qualidade e vida do trabalhador, menor produtividade no ambiente laboral e elevados custos sociais e econômicos, os quais demandam uma revisão profunda das políticas públicas direcionadas ao seu enfrentamento.

 

 

 

Sugestão de leitura

 

  1. Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP comunidade – http://www.abpcomunidade.org.br/site/?page_id=70
  2. CARVALHO, J. A.; Nascimento AL et al. Entendendoostranstornosmentais. Rio de Janeiro : ABP editora, 2010, v.1. p.140.

Mosaico Docente – Prof. Dr. Ismar Capistrano Costa Filho

Da apropriação cultural para a interculturalidade

Apropriação cultural é um conceito utilizado, pelo menos desde a década de 1960, principalmente, nos Estudos Culturais Britânicos, originados no Centro de Estudos de Culturas Contemporâneas da Universidade de Birmingham, através de autores como o britânico Raymond Williams e o jamaicano Stuart Hall. O conceito também é largamente operacionalizado nas investigações de História por pesquisadores como o inglês Peter Burke e o francês Michel de Certeau. Apropriação, como o último define é o ato de tomar os artefatos, costumes e comportamentos de outro grupo cultural como seu. É uma inevitável circulação que demonstra não haver pureza cultural. Todas as culturas possuem, mesmo com significados e usos diferenciados, elementos de outras. Assim as culturas se constituem híbridas, como afirma o antropólogo argentino Nestor Garcia Canclini, ou mestiças, como denomina o filósofo colombiano Jesús Martín-Barbero. Stuart Hall, por exemplo, defende que a intensificação do hibridismo antecede ao processo de globalização do final do século XX. Para ele, a colonização europeia acentuou o inevitável encontro e mistura das culturas.

Mosaico Docente – Prof. Ismar Capistrano Costa Filho

A PARTILHA NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

O pesquisador social mexicano Jesús Galindo Cáceres aponta três etapas na produção do conhecimento científico. A primeira é o processo de exploração, que se dá no contato do pesquisador com a realidade, elaborada por fluxos de impressões e expressões e registrada em instrumentos como diário de campo, gravações, imagens e relatórios. É o momento de conexão com um mundo que deve estar além das construções simbólicas anteriormente organizadas. É uma relação conflitiva porque os pressupostos, inclusive que fundamentam a pesquisa, podem ser contrariados e as convicções, confrontadas, por isso, o investigador necessita cultivar um desapego a seu saber prévio e até a suas motivações, sabendo que só assim poderá produzir e acumular novos conhecimentos.

Mosaico Docente – Prof. Rui Rodrigues Aguiar

MEU EU INTERIOR

(publicado originalmente em “O POVO”, Fortaleza, 18 de abril de 2016)

Quem como eu chegava em Fortaleza nos anos 1980, era recebido na Cidade com a mais filosófica das perguntas: “Qual é o seu interior?”. Aos poucos fui encontrando outras pessoas que haviam ou continuavam a responder diariamente à mesma pergunta, entendendo com elas que esta cidade é uma federação de municípios. Em vários de seus bairros ainda encontramos o ar e os personagens das cidades do interior do Ceará. Embora mais raras hoje, cadeiras nas calçadas e alguns costumes sertanejos denunciam algo que trouxemos na bagagem quando chegamos aqui.

Mosaico Docente – Prof. Rui Rodrigues Aguiar

VIDAS POR TRÁS DAS ESTATÍSTICAS

(publicado originalmente em “O POVO”, Fortaleza, 20 de fevereiro de 2015)

Na década de 1980, o Ceará ocupava a terceira posição em um ranking de Estados que chocava a opinião pública: o da mortalidade infantil. Para cada mil crianças que nasciam vivas, 111 morriam antes de comemorar o primeiro aniversário. A pauta da infância e da adolescência surgia forte no Brasil em meio à redemocratização. Muito mais do que uma mudança de nomenclatura, o conceito de sujeitos de direitos exigia de todos atenção prioritária para as demandas de crianças e adolescentes.

Mosaico Docente – Prof. Rui Rodrigues Aguiar

PRECISAMOS DE TODOS OS ADOLESCENTES

(publicado originalmente em “O POVO”, Fortaleza, 19 de fevereiro de 2015)

Um dos grandes problemas da urbanização brasileira é o aumento das desigualdades sociais que trouxe consigo fenômenos únicos, como o homicídio de adolescentes. Alguns desses fenômenos se tornaram tão graves que exigiram a criação de índices capazes de medi-los e monitorá-los. Índices sinalizam trechos específicos da nossa história e apontam para onde vamos como sociedade. O Índice de Homicídio de Adolescentes revelou que Fortaleza não contou ao final de 2012 com 9,9 adolescentes de cada grupo de mil jovens entre 12 e 18 anos, mortos naquele ano. Projeções indicam que outros 2.988 morrerão até 2019 se nada for feito hoje.

Mosaico Docente – Prof. Marco Túlio Aguiar Mourão Ribeiro

FORMAÇÃO MÉDICA: READEQUAÇÃO DO CURSO DE MEDICINA PELAS NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES

A formação de recursos humanos para saúde está prevista pela Constituição federal, pela LEI 8.080- Lei orgânica de saúde- que traz como premissa o estímulo e ordenação do processo de formação dos profissionais de saúde, aptos a atender às necessidades do SUS. Nos últimos anos, a formação médica tem sido amplamente discutida. No Brasil e no estado do Ceará várias políticas e medidas interinstitucionais foram instituídas e podem ter influenciado a formação dos médicos neste estado.

Mosaico Docente – Profa. Dra. Maria Isis Freire de Aguiar

CURSO DE FORMAÇÃO EM TRANSPLANTES

A Liga Acadêmica de Enfermagem no Transplante (LAET) promoveu no primeiro semestre de 2016 um “Curso de Formação em Transplantes”, direcionado para os alunos que atuam na Liga e demais interessados na área.

O transplante de órgãos e tecidos é uma modalidade terapêutica que viabiliza o tratamento de inúmeras enfermidades, proporcionando ao paciente sobrevida nas doenças em estágio terminal, além de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos.