Recortes Existenciais

Recortes Existenciais – Prof. Cléber Domingos

1 – O tempo levou meus sonhos, minhas ilusões, meus amores, amigos.

O tempo me levou, e não sei para onde.  Onde o tempo me deixou?
Ah, tempo!!! Daqui há pouco já não estarei, e Tu, velho amigo, que levas minhas memórias, irás comigo?

2 – A dor humana: se ao menos ao descrevê-la experimentasse alívio, eu o faria. Memória e afeto. Eis a cura da dor: a demência, a anestesia, a Morfina

Recortes Existenciais – Prof. Cléber Domingos

O silêncio de Deus

A ideia que temos de Deus é de que Ele é Pai, nosso protetor, nosso amigo. Sempre atento às nossas necessidades, a nossos medos, a nossas vulnerabilidades. Mas, eis que de repente, experimentamos a dor. E aí, onde está Ele? Queremos compreender algumas coisas e, nenhuma palavra, nem uma explicação, nenhum som. Deus permanece mudo. Nada diz. Parece que se ausentou. Deixou-nos entregues às nós mesmos. Tornamo-nos órfãos. É certamente o silêncio mais terrível, o mais ácido e enlouquecedor.

Recortes Existenciais – Prof. Cléber Domingos

Da alteridade

Eu e tu, nós. Eis um caminho. Uma escolha. Um reconhecimento.

Seria sem você? A quem me reportaria? Na mesma medida és porque sou!

Mas esta é uma escolha difícil, sobretudo nos dias atuais. Somos bombardeados de novos apelos. Pouco nos demoramos. Nosso olhar já não se fixa. A contemplação tornou-se absurdo. Num mundo onde as relações tornaram-se líquidas, somos culpabilizados pela contabilidade. Basta olharmos o número absurdo de “amigos” registrados nas benditas “redes sociais”.

Recortes Existenciais – Prof. Cléber Domingos

Ilusões

Não é incomum alguém nos dizer: “tudo é ilusão!”. Algumas vezes nos sentimos iludidos. Outras vezes buscamos nos iludir. É como se iludir-se é condição fundamental para suportar o difícil, o quase inviável. Existem situações em que a sobriedade nos vulnerabiliza, nos deixa desprotegidos. Aí precisamos de uma narcose, de um alento, de uma dose de “alguma coisa”, de uma prece, de um ombro, de um abraço, de uma palavra, de uma canção, de qualquer coisa que nos tire daqui.

Recortes Existenciais – Prof. Cléber Domingos

Prefácio de Recortes Existenciais

Escrever é fazer recortes, mas recortes que tocam os extremos, aqueles que ferem outras superfícies. Você acaba por ferir as extremidades dos mundos que te envolve e carregar para o texto suas interferências. Portanto a escrita é apanhado. Não pode ter pretensão alguma de querer dar conta do mundo. Olhe lá se conseguir dizer-se ou falar daquilo que se pretende. A escrita é vulnerável. Uma vez dita, a palavra torna-se indefesa.

Recortes Existenciais – Apresentação

SOBRE A COLUNA

Recortes Existenciais:

Um recorte é uma cisão, uma ruptura, um isolamento. O recorte manifesta uma escolha, um lugar para o qual lançamos olhares e esperanças. Traduz meus afetos, perdas, feridas e alegrias. Podemos falar sobre ele, a qualquer momento. Ele é meu. Eu o tomei, o retirei do lugar comum. Das nossas existências podemos fazer milhares. Uma das questões, todavia, é: com quem posso compartilhá-los? Não busco molduras. As molduras delimitam espaços, confinam as representações. Prefiro jogá-los ao ar, especialmente junto aos abismos.

Sobre o autor:

Sou Cléber Domingos Cunha da Silva. Como é difícil falar de mim mesmo. Um tormento eu me apresentar. Sinto-me violentado nesta tarefa. Talvez pelo risco de fechar-me numa identidade, risco de perder algo de mim nesta cilada. Então eu prefiro escapar. Não é na farmácia o único lugar que me encontro. Vivo em múltiplos recortes. Recortes existenciais.