O silêncio de Deus

A ideia que temos de Deus é de que Ele é Pai, nosso protetor, nosso amigo. Sempre atento às nossas necessidades, a nossos medos, a nossas vulnerabilidades. Mas, eis que de repente, experimentamos a dor. E aí, onde está Ele? Queremos compreender algumas coisas e, nenhuma palavra, nem uma explicação, nenhum som. Deus permanece mudo. Nada diz. Parece que se ausentou. Deixou-nos entregues às nós mesmos. Tornamo-nos órfãos. É certamente o silêncio mais terrível, o mais ácido e enlouquecedor.

Esmurramos,

Gememos,

Gritamos,

Xingamos, e…Nada. Nenhuma palavra.

Perguntamos,

Questionamos,

Intimamos,

Convocamos para um diálogo, e…Nada. Nenhum pronunciamento.

E seguimos a vida. Prosseguimos. A passos lentos, desconfiados, mas, mais convictos de que: a resposta não virá Dele.

Seremos nós a fabricarmos respostas que nos consolem. Nos embriagaremos de ilusões. A dor que parece infinita, por fim, cessará. Um copo de vinho seco, suave, pode nos diluir neste imenso silêncio que nos absorve.

Depois de cansar-me, restou-me silenciar igualmente.

Nada tenho mais a dizer.

Agora estamos diante um do outro. Nada dizemos.

Ouso negar-lhe minhas palavras. Afinal, não tenho respostas.

Permaneço em silêncio. Um silêncio fértil. Um abandono que exige fé.

 

cléber domingos-h150Prof. Cléber da Silva

Departamento de Farmácia/FFOE
cleberd@ufc.br