1 – O tempo levou meus sonhos, minhas ilusões, meus amores, amigos.

O tempo me levou, e não sei para onde.  Onde o tempo me deixou?
Ah, tempo!!! Daqui há pouco já não estarei, e Tu, velho amigo, que levas minhas memórias, irás comigo?

2 – A dor humana: se ao menos ao descrevê-la experimentasse alívio, eu o faria. Memória e afeto. Eis a cura da dor: a demência, a anestesia, a Morfina

3 – A queixa nada constrói. Feliz os surdos se convivem com línguas afiadas e inquietas. Mas, feliz é quem pôs seu coração em lugar seguro.

4 – A cobiça nos leva longe…até mesmo onde não queremos.
Mais vale a intensidade de um instante, do que os anseios não correspondidos. Por isso entrego-me aqui e agora, amanhã seremos outros.

5 – Te afastas dos vivos e estarás cada vez mais próximo aos que já morreram. Certamente, com o passar dos anos, não morrerás jamais.

6 – Queres saber se amas alguém? Responda: ele(a) me é necessário(a)? Se sim, então o que amas é a necessidade.

7 – O desejo de vingança é sintoma de doença: qualquer médico sabe disso.

8 – Quem mais nos estimula: a esperança ou a felicidade?

9 – O que nos liga e o que nos separa reside juntos.

10 – O amor cega, possivelmente por conta do fogo que traz consigo.

11 – Curo minhas paixões quando troco de lentes.

12 – Há anos procuro a alma de uma mulher…mas, como a encontrarei se nelas a profundidade é desconhecida?

13 – Se a convivência não fosse uma regra, bons relacionamentos poderiam durar mais tempo.

14 – Alguns suspiram pelo desaparecimento de outros.

15 – Embora eu possa não realizá-los sempre, posso prometer atos, mas sentimentos jamais; estes são involuntários. Os sentimentos não estão em meu poder.

16 – É fácil reconhecer os equívocos: neste caminho os abutres são hóspedes. Conhece-se os vermes pelos sintomas, conhece-se os equívocos pelos “ais”.

17 – O ressentimento nada cria. Vômito e fezes são resíduos, mas os ressentidos não os distinguem da poesia.

18 – Você quer saber se está na estrada certa? Responda: sem isto eu morro? Se você não morrer, então saia do caminho.

19 – A paixão cega e o medo paralisa.
Ei, tu, ainda me vês? Consegue dar um passo?

20 – Boca vazia: paralisia retal.
Rancor e arte: incongruência!

21 – O que do Jardim a Ninguém pertence? O perfume.
Reténs a flor. Mas, seu aroma me nutre.

22 – O Outro é paradoxal. É céu e inferno. Ambiguidade. Me excita e me deprime, me exalta e me apequena, me regala e me subtrai. Qual a melhor distância? Será preciso uma Eternidade entre nós?

23 – Não viverei minha morte. Quando ela me alcançar não poderei fazer-lhe perguntas e nem divulgar suas respostas. Qual será sua Grande utilidade? Me tirar daqui?

24 – É certo que para além da solidão dos espíritos livres, dos que estão à frente de seu tempo, não há consolos (como se nutríssemos disto), aplausos ou reconhecimentos. O que consigo enxergar, ainda que distante, é um horizonte convidativo a prosseguir.

25 – No entardecer da existência, um mal entendido: a de que há um sol, uma grande luz, um astro que se ausenta. A existência é a luminosidade, mas como a podemos reconhecer, não como ela é em si mesma. Conhecimento, luminosidade e existência: três asas.

26 – Saudade: sensação de falta do que já experimentei.
Saudade: vontade de com-viver, novamente.
Saudade: aspiração profunda pelo outro.
Tu: eis minha saudade!

27 – Retratar-se pelos equívocos,
pelos transbordamentos,
pelas revelações,
pelas afirmações,
pelos nãos. É preciso?
Os acertos,
as reclusões,
as mutilações,
os assujeitamentos. Tudo isso… Sou eu mesmo.
Inocência e solidão num cálice de vinho: salvação.

28 – Dois pontos. Lindos. Chamativos.
Situados sobre a seda branca.
Abaixo de camadas tecidas de carne.
Um par de olhos. Mãos estendidas.
Uma visão? Uma ilusão. O desejo é criativo.
O poeta descreve sua paixão, mas não identifica o que o move.
O que o move se move, se deforma, é hoje, agora, mas amanhã já não o será.
Dois pontos. Duas peles. Cavidades.

29 – Colesterol, triglicerídeos e glicose: falam de mim.

30 – Sufocado pelo ar que busquei. Espírito Livre: um chamado Antigo.

31 – Por acaso já experimentastes uma vontade de Não ter vivido?

32 – Tenho compaixão dos que tem dificuldade de caminharem, alguns passos, de mãos livres.

33 – Querer prevalecer, afirmar-se, permanecer, dominar, expandir-se: tudo isto é vontade de que coisa?

34 – Quem pode conter o fogo? O vento? A água? A Terra? O vento O expande. A água O redireciona e a terra O sustenta. Uma escrita forjada no fogo eis a poesia dos que contemplam o Abismo.

35 – Do abismo um som, um eco, uma voz, um chamado. Não estou sozinho. Tu, invisível a estes olhos, permanece ao meu lado. Eu e Tu, Nós.

36 – A culpa e o ressentimento jamais construíram ou transformaram a vida dos homens. Ao contrário destes, perseverar para a realizar suas aspirações, tornam o homem menos tagarela.

37 – O amor é um dos conceitos que o ser humano mais se apropria para estabelecer sua condição de existência. Ele não é absolutamente falta ou excesso, ele é simplesmente presença.

38 – A moralidade é uma maneira de se viver para os outros, não para si mesmo. Ela é exterioridade do ser. Não ter escolhido a liberdade, eis o supremo absurdo e a suprema tragédia da existência, eis a irracionalidade.
Mas, o viver para si exige, igualmente, uma moralidade. Todavia, uma moral fundada numa interioridade, uma afirmação violenta da liberdade,

39 – O mundo onde nasci já não existe. Todavia, existem alguns resquícios de uma humanidade a qual pertenço.

 

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Prof. Cléber da Silva

Departamento de Farmácia/FFOE

cleberd@ufc.br