Ilusões

Não é incomum alguém nos dizer: “tudo é ilusão!”. Algumas vezes nos sentimos iludidos. Outras vezes buscamos nos iludir. É como se iludir-se é condição fundamental para suportar o difícil, o quase inviável. Existem situações em que a sobriedade nos vulnerabiliza, nos deixa desprotegidos. Aí precisamos de uma narcose, de um alento, de uma dose de “alguma coisa”, de uma prece, de um ombro, de um abraço, de uma palavra, de uma canção, de qualquer coisa que nos tire daqui. Tem momentos em que viver é insuportável, é algo para deuses, para heróis. Pois bem, neste sentido a ilusão é um estado de sobrevivência. Nos iludimos para sobreviver. Fazemos amor, comemos, bebemos, compramos, estudamos, trabalhamos, jogamos, fazemos centenas de milhares de coisas para dar significado a esta vida que, por si mesma, é desprovida de sentido. Nos iludimos com a crença de que somos nós mesmos que fazemos tudo isso. Como se bastássemos.

Ora, se todas as nossas ações são de certa forma uma maneira de driblarmos a falta de sentido que atravessa nossa existência, se admitimos isso como uma verdade, então ler e escrever é busca de alento, de motivos, de direção para prosseguirmos num caminho cujo fim desconhecemos e cujo começo também ignoramos.

cléber domingos-h150Prof. Cléber da Silva

Departamento de Farmácia/FFOE
cleberd@ufc.br