unnamedLeonardo Robson Pinheiro Sobreira Bezerra

Professor Adjunto do Departamento de Saúde Materno Infantil FAMED-UFC

A UFC na história da minha vida.

 Sou professor do Departamento de Saúde Materno Infantil da FAMED-UFC desde junho de 2014. Mesmo sendo ainda tão embrionária minha vida acadêmica docente, tenho na UFC uma longa trajetória pessoal e profissional. Aqui vivi todo o meu curso de graduação em medicina, também segui na Pós-graduação latu senso da Residência médica em Ginecologia e Obstetrícia na MEAC-UFC.

A Universidade Federal do Ceará não pode ser traduzida como uma só. Desde cedo aprendemos a diversidade do Campi Universitário. O Campus do Pici, à época, nos acolhe ao início do curso, mas é no Porangabussu que a Medicina constrói seu ninho. O ambiente urbano deste Campus, entremeado nas casas e comércios do bairro Rodolfo Teófilo de Fortaleza, sempre foi meu lar de formação. Lá formei-me médico, especializei-me em Ginecologia e Obstetrícia e também conheci, namorei e casei com minha esposa, também médica da UFC. Mesmo com todas as dificuldades e limitações das instituições ora sucateadas por governos sem prioridade na educação médica, consolidamos o nosso saber na assistência humanizada e centrada na empatia e atenção ao próximo. Seguindo os grandes mestres.

A carreira acadêmica, a pesquisa científica me seduziram desde o início do curso. Tive a honra de fazer parte do primeiro grupo do PET (Programa Especial de Treinamento) Medicina, sob a supervisão do Prof. Odorico de Moraes e tutoria do saudoso Prof. Ronaldo de Albuquerque Ribeiro. Sob a batuta desses maestros, não havia como traçar um caminho na UFC que não fosse sobre os trilhos da pesquisa fundamental, das evidências científicas e da farmacologia. O prof. Ronaldo nos ensinou mais do que os fundamentos da pesquisa clínica, da farmacologia e da ética; ensinou-nos a alegria de se estar sempre jovem, entre os jovens, ensinando e compartilhando saberes e vivências. Quer seja no laboratório, nas plenárias dos congressos, ou nas rodas de conversa de violão e discussão política. Após terminar a residência médica na MEAC-UFC ingressei sem solução de continuidade na pós-graduação em Ginecologia da UNIFESP-EPM em São Paulo. Não me via ainda tão cedo já clinicando, sem seguir a trajetória docente. Emigrei como muitos médicos contemporâneos meus, à busca de inovar e crescer cientificamente. O Anseio por novas tecnologias, o grande sudeste maravilha. Daí por diante a UFC, o Porangabussu, transformou-se em doce lembrança saudosa, porém raízes que nunca definharam o ideário de retornar. Longos cinco anos se passaram. Após o término do doutorado retornei a Fortaleza onde inevitavelmente ingressei na vida assistencial da medicina. Mas como um instinto, uma força maior busquei (ou fui buscado) às atividades de preceptoria e ensino em saúde. Sempre envolvido com programas de residência médica. Ingressei como GInecologista da secretaria de saúde do estado do Ceará. Iniciou-se a espera de abrirem-se as portas para ingresso como docente na UFC. Longos dez anos se passaram após o término de doutorado. Nesse tempo, a construção do saber agora era diferente. Assistia a um crescente interesse pelo aspecto de avaliar competências e aptidões clínicas e práticas em medicina. Eu havia de me fazer docente do meu tempo, aprender novas tecnologias, metodologias ativas de ensino, aprendizado baseado em problemas, exame clínico orientado estruturado (OSCE). Ingressei na UNIFOR em um programa de graduação de medicina inovador. Foi-me profícua a experiência, de fato corroborando o lema “ensinando e aprendendo”. Um modelo focado em competências e aptidões clínicas. Muito deslumbrado com as novas metodologias para graduação, porém ainda surgia o desejo da pesquisa científica e da Preceptoria. Feliz com  o modelo da UNIFOR, mas distante da minha expectativa de vivência universitária. Lá estive muito próximo da graduação, mas longe da prática assistencial docente e da pesquisa clínica. Como criar raízes e perder minhas características de docente assistencial e pesquisador? Finalmente surgiu a oportunidade de ingressar na UFC. Custou-me abrir mão do contrato com a Secretaria de saúde do Estado e das demais atividades assistenciais. Mas não há realizações sem sacrifícios.

Após três anos de ingresso na Faculdade de Medicina da UFC sinto-me como se nunca estivesse ficado daqui ausente.  O carinhoso acolhimento dos meus professores, agora colegas de departamento, somou, à realização de um sonho e a força para crescer e inovar com a instituição.

A Universidade cresceu. A Maternidade Escola cresceu. A residência médica também. O Hospital hoje é referência em gestação de alto risco, parto humanizado, Uroginecologia, Endometriose, cirurgia ginecológica minimamente invasiva, dentre muitas outras áreas de atenção à saúde da mulher, Hoje o papel do docente de medicina da UFC está há muito além da sala de aula, dos encontros expositivos, das repetidas apresentações em ambientes fechados. Estamos inseridos nessa pujante realidade assistencial. Aprende-se ainda mais em ambientes reais de nossas instituições de assistência à saúde. Outras vivências se sobrepõem. Ainda como docente, mas não só, sempre mais, para além de só ensinar em sala de aula. A diversidade da vivência universitária na Medicina da UFC vai além. Docentes aqui são gestores, empreendedores, inovadores em estratégias de assistência à saúde, supervisores, orientadores de pesquisas clínicas, iniciação científicas, atividades de extensão universitária, médicos e professores de médicos. A docência vive na assistência real, de situações e problemas reais. Acolhendo, diagnosticando, tratando pessoas dentro de seus contextos saúde-doença verdadeiros. Ensinando como médicos, fazendo medicina em ambientes reais. A formação do estudante dentro da realidade assistencial de alto padrão, humana, acolhedora, efetiva. A formação com a pesquisa clínica, com a extensão universitária. Inclui-se aí desde a mais elementar atividade de assistência básica à saúde da mulher, até a cirurgia de mais alta complexidade.

Que universidade é essa que estou? Diferente! Maior! Pujante! Inclusiva! Realística! A docência hoje para além da sala de aula. O docente como personagem ativo da assistência à saúde dentro de instituições que trabalham tecnologias e humanização com o pressuposto científico, acadêmico. A presença do docente nessas redes de assistência/docência/gerência consubstancia a essência do conceito de HOSPITAL UNIVERSITÁRIO. A UNIVERSIDADE multidisciplinar, real, humana e crescente.

Há muita felicidade em fazer parte dessa história.