Profa. Luciane Goldberg, da Faculdade de Educação

BREVIÁRIO: Fale-nos um pouco do começo da sua trajetória acadêmica.


LUCIANE GOLDBERG:
 Sou licenciada em Educação Artística com Luciane Goldberghabilitação em Artes Plásticas e tenho mestrado em Educação Ambiental, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande – RS. Considero importante mencionar que sempre fui apaixonada pelas questões ambientais e, antes de estudar Artes, tive uma passagem significativa pela Biologia. Neste curso (Ciências – Biologia), comecei na pesquisa como bolsista de Iniciação Científica da Fapergs num projeto sobre insetos de dunas, pesquisando inicialmente coleópteros (besouros) e aranhas de dunas na planície costeira do Rio Grande do Sul, mais especificamente na Praia do Cassino – a maior praia do mundo em extensão (!). Era tão fascinada pelos bichos e plantas que comecei a desenhá-los a partir da observação na lupa. Era incrível! Cheguei a fazer um guia ilustrado das aranhas das dunas com desenhos detalhados catalogando as espécies. Há pouco tempo soube que ainda usavam meu catálogo desenhado para identificação das aranhas – espero que tenham realmente levado esse projeto adiante. Dessa paixão pelo desenho científico fui parar no curso de Artes Plásticas, o que foi uma grande realização. Como sempre fui muito curiosa, logo busquei oportunidades de pesquisa, ingressando em dois projetos, inicialmente como voluntária, depois como Bolsista de Iniciação Científica – CNPq: Projeto “Utopias Concretizáveis Interculturais” e Projeto “Arte-Pré-Arte”. Tais projetos são responsáveis pelo início dos meus interesses e escolhas acadêmicas que até hoje são importantes. Do primeiro, o trabalho com Educação Ambiental a partir de uma perspectiva inter e transdisciplinar. Do segundo, o resgate da capacidade criadora do adulto, que levou à minha monografia de conclusão de curso que versou sobre a interrupção do grafismo infantil e aplicação de metodologias de resgate dessa capacidade criadora ‘perdida’.

B: E como iniciou a prática docente?

LG: As práticas docentes começaram no interior desses dois projetos com grupos diversos, na universidade, nas escolas, etc. Logo que me formei comecei a atuar junto a uma importante ONG, o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental – NEMA, situada na praia do Cassino (RS). Paralelo a este trabalho na ONG, fui aprovada em concurso público e nomeada como professora de Artes para as séries finais do ensino fundamental numa escola pública do Estado. Na ONG, participava do Projeto Mentalidade Marítima, um projeto interdisciplinar que reunia profissionais das ciências, artes e educação física. Além da atuação como arte-educadora na formação de crianças e professores da rede pública municipal, passei a atuar como ilustradora e artista gráfica da ONG produzindo muitos materiais gráficos. Minha dissertação de mestrado, “Arte-Educação-Ambiental: o despertar da consciência estética e formação de um imaginário ambiental na perspectiva de uma ONG” acabou por abranger toda essa trajetória de pesquisa anterior, reunido essa participação na ONG, minha passagem pelos projetos de graduação e a paixão pela arte e pelo desenho infantil. Toda minha formação acadêmica tendeu para essa relação entre arte e meio ambiente, seja como docente, pesquisadora ou artista. Em Fortaleza, tive a oportunidade de lecionar Artes nas séries iniciais numa escola construtivista e, posteriormente, comecei a atuar em pós-graduações, em Educação Ambiental (Senac) e em Arte Educação (FA7).

B: Quais suas atividades atualmente na UFC?

LG: Na UFC, sou responsável pela disciplina de Arte-Educação, na Pedagogia, e ministro disciplinas afins nos cursos de Dança e de Teatro. Também coordeno tutoria do curso de pedagogia a distancia e sou coordenadora adjunta do projeto de extensão REEDUCA, juntamente com a prof. Ercília Braga de Olinda (também minha orientadora no doutorado). Atualmente, estou cursando doutorado em Educação Brasileira na UFC e minha tese tem como interesse de pesquisa o desenho infantil e a pesquisa autobiográfica.

B: O que lhe trouxe para a arte-educação? E como decidiu lecionar na UFC?

LG: Como boa parte dos estudantes de licenciaturas em Artes, eu nunca tinha pensado em ser professora, foi algo que aconteceu espontaneamente a partir das oportunidades e das vivências nos projetos de pesquisa. Fui percebendo que mais importante que me preocupar com o “meu próprio umbigo” eu poderia me preocupar com o “umbigo alheio” e passei a militar na arte-educação, lutando pelo direito ao ensino de arte como área de conhecimento. Assim, a atuação em arte-educação veio das participações nos projetos como bolsista, da docência em Artes na escola pública e particular e do trabalho ativista na ONG. O trabalho artístico também se voltou para a educação à medida que passei a produzir materiais educativos para projetos ambientais. Com o tempo fui percebendo que era preciso formar professores em Artes e que essa formação deveria estar voltada para a educação infantil e as series iniciais, já que os licenciandos em Artes só podem atuar a partir das séries finais e muitos ‘nós’ artísticos são formados nesse período inicial, sendo difícil desatá-los posteriormente. A docência passou a ser meu maior campo de atuação e militância nas duas áreas, na educação ambiental e na arte-educação e foi uma grande oportunidade poder fazer concurso e ser aprovada para a área de arte-educação na Faculdade de Educação na UFC. Lecionar numa universidade pública representa pra mim a possibilidade de, verdadeiramente, contribuir na formação de educadores que atuarão na educação básica proporcionando novos olhares sobre a importância do ensino de Arte. Posso dizer que hoje estou no lugar que gostaria.

B: Quais os maiores desafios em sua atuação docente na UFC?

LG: Dentre muitos, um dos grandes desafios na atuação docente é conciliar o tempo para tantas atividades!!! Lecionar na graduação, pesquisar, publicar, participar de eventos, fazer doutorado, estudar, coordenar tutoria da pedagogia à distância, tudo ao mesmo tempo! Observo também que ainda é preciso expandir a área de Artes na educação, galgar espaço para a entrada de novos profissionais das Artes na FACED, pois posso dar conta da área de Artes Visuais que é a minha formação, já que os licenciados em Artes não são polivalentes como os pedagogos e seria importante que tivessem a acesso a formações em todas as áreas artísticas que poderiam vir do ICA (Dança, Teatro e Música). Também estamos batalhando por uma sala de artes que será construída em breve, pois é importante ter um espaço físico adequado, bem como equipamentos para o trabalho com artes. Há dois anos apenas como professora na universidade, vislumbro muitos desafios e necessidades e espero que a área cresça!

B: O que mais lhe alegra em seu papel como professor?

LG: O feedback constante dos estudantes, a empolgação, os sorrisos, o desejo de saber mais. Todo dia recebo um carinho enorme dos estudantes como reconhecimento do meu trabalho como docente. Esse contato, essa possibilidade de intervir na formação desses estudantes, de contribuir, de alguma forma, em suas vidas e ver o resultado dessa intervenção é o que mais me alegra. Não vejo a docência como um ‘trabalho’ no sentido da ‘obrigação’ e me sinto motivada diariamente ao convívio e ao aprendizado coletivo.

B: Qual sua opinião sobre a CASa? Qual a importância da formação docente para o professor recém chegado à UFC?

LG: Gosto muito do projeto CASa. Desde que ingressei pude conviver com colegas recém-chegados como eu, além de poder participar de eventos que considero muito importantes para minha formação, seja com docentes da casa que vêm compartilhar suas histórias de vida, como no Mentores da Docência (que adoro), ou de importantes figuras da educação que vêm dar sua contribuição, como Selma Garrido Pimenta, João Francisco Duarte Júnior, Cipriano Luckesi, dentre outros.

B: Para além da vida no campus, quais são seus outros interesses, hobbies etc?

LG: Meus interesses, para além da vida no campus, estão na área de artes, como ilustradora e artista gráfica. Além do trabalho na produção de material gráfico educativo, que pode ser visto no meu portfólio virtual (http://lucianegoldberg.wix.com/portfoliolugoldberg), tenho um personagem filosófico chamado K-Olho, que acabou virando uma grife: http://lucianegoldberg.wix.com/k-olho. Dancei flamenco por quatro anos, mas tive que parar depois que ingressei como professora na UFC, por incompatibilidade de horários. Gosto muito de fotografar e queria muito poder fazer um curso de animação pra animar meus desenhos.

 

Entrevista realizada na data 02/06/2013 para coluna Spotlight do Breviário da CASa.