Prof. Heberty Di Tarso, do curso de Medicina Barbalha

BREVIÁRIO: Conte-nos um pouco de sua história no ambiente acadêmico e de suas experiências no âmbito da pesquisa.

Prof.Heberty-h150HEBERTY DI TARSO: Eu comecei no ambiente acadêmico trabalhando na iniciação científica no departamento de Bioquímica da UFPE, durante o meu curso de graduação em Farmácia. Logo após a minha formatura entrei no mestrado em Bioquímica, onde trabalhei com a professora Vera Menezes. Durante o mestrado, trabalhei com modelos de doenças e estresse oxidativo. Depois dessa experiência, ingressei como professor substituto do Departamento de Fisiologia da UFPE, onde tive a gratificante experiência na docência de nível superior. Durante este tempo eu me inscrevi para o doutorado na USP de São Paulo, sob orientação da professora Alicia Kowaltowski. Após a aprovação no curso e da bolsa pela FAPESP eu mudei para São Paulo, onde concluí estudos de proteção cardíaca contra isquemia e reperfusão, baseados na proteção mitocondrial. Vale salientar que trabalhar com a professora Alicia mudou definitivamente o meu jeito de pensar e agir. Ela sem dúvida é a minha maior inspiração para continuar na carreira docente. Durante esse período também conduzi estudos no National Institutes of Health nos Estados Unidos até que voltei e finalizei o doutorado com seis artigos publicados em revistas internacionais de alto impacto. Como este período do doutorado sanduíche nos Estados Unidos foi muito proveitoso decidi me inscrever para oportunidades em nível de pós-doutorado também nos Estados Unidos. Apliquei para vários institutos de pesquisa e universidades e fui chamado para ao menos três deles. Desta forma escolhi o laboratório do Professor Steven Jones por várias razões entre elas o fato de ser um grupo novo e bem produtivo. Junto ao professor Jones publiquei cerca de seis trabalhos em revistas, aprovei um projeto que custeava todo o meu salário, fiz muitos amigos americanos e estrangeiros, apresentei trabalhos em congressos, ganhei um prêmio da sociedade americana de fisiologia e aprendi uma série de novas técnicas. Todavia, ao fim de três anos trabalhando neste laboratório eu resolvi mudar para outro laboratório ainda maior e mais reconhecido, chefiado pelo professor Victor Dzau na Universidade de DUKE na Carolina do Norte. Lá conduzi estudos do meu segundo pós-doutorado com proteção cardíaca em modelos animais knockout e transgênicos para proteínas secretadas em células submetidas a baixa concentração de oxigênio. Neste laboratório trabalhei com uma série de novas técnicas envolvendo conceitos aplicados na área de biologia molecular e célula tronco. Neste período produzi uma série de resultados inéditos que estão em revisão para publicação. Ao fim deste período preparei minha volta para o Brasil com a certeza de que estaria bem preparado para colaborar com a formação de alunos brasileiros de graduação e pós-graduação.

B: Como o período em que esteve nos Estados Unidos, durante o pós-doutorado e parte do doutorado, influenciou sua carreira acadêmica?

HDT: A influência americana na minha formação é muito gratificante, pois lá aprendi não só a seguir horários (coisa que no Brasil as pessoas ainda não aprenderam) e ter uma conduta profissional em tudo, mas também a respeitar as diferenças culturais e de pensamento. A visão americana para o ensino e pesquisa com foco no inédito é definitivamente o modelo mais adequado para o avanço do conhecimento produzido por Universidades e institutos de pesquisa. A forma profissional usada pelos americanos para balancear o financiamento público (maioria do financiamento vindo do NIH) e o interesse capitalista é notável. Portanto, o período que estive nos Estados Unidos (5 anos no total) me fez observar que a dinâmica universitária pode funcionar muito bem entre pesquisa, ensino e financiamento de forma que todos direcionem para um objetivo final comum. Não estou dizendo que no Brasil isso não ocorra, mas sim que lá o modelo é melhor aplicado e talvez seja devido a uma série de fatores sócio-econômicos favoráveis aos que lá vivem.

B: Por que optou pela docência?

HDT: O dinamismo da vida acadêmica sempre me fascinou. Sem preconceito pelos outros trabalhos eu acho que não me ajustaria em um emprego onde tudo fosse estático. Na vida acadêmica sempre se tem desafios de ensino, aprendizagem e pesquisa e tudo isso sempre proporcionando o aparecimento de novos métodos de ensino, ideias e achados inéditos que sempre me incentivaram para a vida acadêmica. Um exemplo atual disso é o desenvolvimento de uma nova aula prática pela minha aluna de monitoria em imunologia, Amanda Plácido, que desenvolveu uma nova forma de ensinar imunologia na prática com modelos animais imunizados. Sem dúvida nenhuma a Universidade não é para quem gosta de apertar parafusos mas sim para quem gosta de observar, entender e tentar acrescentar algo de novo a sociedade em que vivemos. Tudo isso tudo baseado no método científico e não em dogmas.

B: O que lhe trouxe à UFC? Quais foram os maiores desafios ao chegar?

HDT: Depois de vários anos fora do Juazeiro do Norte, de onde saí no início do ano de 1996, eu voltei para encontrar nesta cidade uma densidade acadêmica que antes não existia. Decidi ficar, para tentar colaborar com o avanço da região no campo universitário, bem como pela proximidade da minha família, que é toda desta cidade. Desta forma, 10 meses após minha volta fiz um concurso para a UFC, onde ingressei no mês de outubro de 2012. A estrutura da UFC Campus Cariri é satisfatória com grandes oportunidades o que facilita a adaptação. Não tive dificuldades significativas que atrapalhassem ou desestimulassem a minha careira. Pelo contrário, as dificuldades aqui encontradas são na verdade oportunidades de crescimento que talvez em outros lugares não seriam.

B: Que atividades desenvolve no Campus Cariri da UFC?

HDT: Atualmente leciono as disciplinas básicas de Fisiologia, Imunologia, Biologia Molecular e Biofísica para alunos do curso médico. Desenvolvo atividades de extensão com trabalhos voltados para a saúde da mulher, infecções parasitárias e desnutrição. Também desenvolvo trabalhos de pesquisa com alunos da graduação em Medicina nas áreas de hipertrofia cardíaca e desnutrição. No trabalho de hipertrofia nós estamos adaptando um modelo de hipertrofia cirúrgica com constricção da aorta abdominal, bem como a indução de hipertrofia cardíaca com o uso de medicamentos. Nosso foco aqui será descrever rotas de proteção contra a hipertrofia baseados na proteção das mitocôndrias cardíacas. O nosso segundo projeto baseado em desnutrição simula a dieta da população pobre da Zona da Mata pernambucana (o modelo usado por mim no mestrado), porém estamos estudando em um trabalho de extensão a dieta que causaria desnutrição em crianças da região sul do Ceará. Ainda acumulo a posição de coordenador da monitoria do curso de Medicina da UFC Cariri, coordenador de dois módulos da graduação em medicina, coordenador adjunto da comissão de avaliação e mais recentemente me tornei coordenador da CASa de Ciências da UFC Cariri.

B: O que mais lhe estimula como docente?

HDT: O estímulo docente vem de várias fontes. A primeira delas é o desafio do ensino em sala de aula e o gratificante aprendizado dos alunos. A segunda é a formação de pessoas que contribuirão para o avanço da sociedade e/ou da própria universidade. A terceira delas é a produção de novos conhecimentos acoplado ao treinamento de pessoas no laboratório. A quarta, e que me incentiva, muito é o ambiente acadêmico e todo seu dinamismo.

B: Qual sua opinião sobre a CASa? Qual a importância da formação docente para o professor recém-chegado à UFC?

HDT: A CASa é sem dúvida uma ferramenta valiosíssima de integração, formação e aperfeiçoamento docente. Aplicando-se os conceitos fundamentais que definem o projeto CASa os docentes são apresentados de forma real e fidedigna a tópicos essenciais para o bom desempenho de suas atividades. Os debates são ricos, participativos e de cunho integrativos e como o professor é um eterno estudante a casa existe para estimulá-los a aprender mais sobre os mais diversos avanços e barreiras do mundo acadêmico. Para o recém-chegado a CASa auxilia na ambientação bem como na integração e participação do acadêmico junto aos mais diversos temas universitários.

B: Para além da universidade, quais são seus interesses pessoais e suas atividades de lazer preferidas?

HDT: Sou jogador de tênis de final de semana e sempre que posso vou ao nosso estádio (Romeirão) para acompanhar os times que torço: Icasa e Guarani (sim, torço igualmente pelos dois!). Sou um amante do cinema, bem como das artes no geral. Gosto muito de viajar e conhecer lugares novos. Esportes radicais como surfe também me fascinam, mesmo que não possa praticá-los por várias questões. Gosto de correr e de observar a natureza da Chapada do Araripe aqui na região do Cariri. Também aprecio um bom vinho (cabernet sauvignon) ou cerveja com os amigos.

* A entrevista foi concedida antes da criação da Universidade Federal do Cariri (UFCA)

 

Entrevista realizada na data 12/07/2013 para coluna Spotlight do Breviário da CASa.