Prof. José Antonio Delfino Barbosa Filho, coordenador do NEAMBE

BREVIÁRIO: Fale-nos um pouco sobre você, seu background acadêmico, interesses de pesquisa e responsabilidades atuais na UFC.

Prof.Zeca-h150ZECA DELFINO: Sou engenheiro agrícola, formado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA – MG) e fiz meu mestrado e doutorado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ – USP). Desde minha época na graduação, sempre flertei muito com a área de produção animal e, embora estando em um curso de Engenharia, sempre estava envolvido com essa área. Quando concluí meus estudos em Minas, fui fazer pós-graduação em São Paulo e lá tive a felicidade de encontrar uma linha de pesquisa (Física do Ambiente Agrícola) que representava o casamento perfeito entre a engenharia e a área de produção animal. Passei então seis anos na ESALQ, em Piracicaba, onde fiz grandes amizades e pude amadurecer muito como pesquisador. Quando terminei meu doutorado (2008), apareceu então uma vaga para professor de Ambiência Agrícola em um concurso para o Departamento de Engenharia Agrícola aqui na UFC e eu resolvi tentar. Felizmente deu tudo certo e, desde 2009, estou em Fortaleza. Atualmente sou o professor responsável pelas disciplinas de Construções Rurais (Agronomia) e de Instalações Zootécnicas (Zootecnia) na graduação, faço parte de dois programas de pós-graduação na UFC (Engenharia Agrícola e Zootecnia) e sou coordenador do NEAMBE – Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal.

B: O que o trouxe para a sua área profissional? E como decidiu lecionar na UFC?

ZD: Passei uma boa parte da minha vida no campo, dos 2 aos 19 anos de idade, e como sempre tive muito contato com a terra e com os animais, não tinha como não seguir com isso na minha vida profissional também. Foi quando optei pelo curso de Engenharia Agrícola. Sou apaixonado pela vida no campo, por estar em contato com a natureza e perto dos animais. Desde criança pude vivenciar de muito perto os altos e baixos da produção rural, acompanhei meu pai nos muitos plantios, colheitas, preparo de terras, irrigações, na ordenha e manejo dos animais, na criação de peixes, etc… Foi um tempo muito bom, em que aprendi muito e que ainda me enche de saudades. Tenho certeza de que este tempo de vida no campo é que me deu o conhecimento e a experiência prática que hoje tento levar para a sala de aula e passar para os meus alunos. Esse período da minha vida foi um ótimo “treinamento” que tive e que me ajuda muito em sala de aula. Como já mencionei, vir para a UFC foi meio que acidental, por assim dizer, pois na época estava a espera de um concurso e estava disposto a ir para qualquer lugar do país onde tivesse uma vaga na minha área de atuação, daí esta vaga apareceu aqui em Fortaleza, e eu sequer conhecia qualquer cidade do nordeste do Brasil até então. Mas não tive medo, arrumei as minhas malas e vim para cá, o que posso dizer é que foi uma surpresa muito boa, gosto muito daqui e me adaptei muito rápido a tudo e a todos.

B: Quais os desafios em sua atuação docente na UFC?

ZD: Os desafios pelos quais tenho passado, creio serem os mesmos que todos os professores ingressantes enfrentam. Temos que lidar com a adaptação à nova universidade, aos novos colegas, aos recursos disponíveis, à estrutura física, aos cargos que nos são impostos, as metas de produção, etc… Mas talvez o maior desafio de todos seja o ato de ensinar outras pessoas, de passar conhecimento. Esse, com certeza, é o ponto chave da nossa realização profissional e, embora sejamos direcionados para esse propósito durante a pós-graduação, muitas vezes nos deparamos com uma realidade bem diferente quando entramos numa sala de aula. Sabemos que o professor recém-ingresso nas universidades na maioria das vezes não passou por nenhum tipo de treinamento ou foi preparado anteriormente para as situações de sala de aula. Até mesmo pela nossa cultura de produtividade acadêmica (publicações), passamos toda a pós-graduação preocupados em fazer um bom currículo e quase sempre deixamos de lado a atividade didática. Eu tive a sorte de ter podido dar aulas durante o meu mestrado e doutorado, e isso me deu mais segurança quando entrei na UFC, mas acredito que nem todos tem essa oportunidade e acabam se deparando com uma situação bem diferente da esperada. Neste ponto gostaria de enfatizar a importância do projeto CASa e das propostas das muitas ambiências temáticas que se tem atualmente, em especial a ambiência da qual tive a oportunidade de fazer parte “Cooperação e Interatividade” onde a proposta era justamente refletir sobre esses muitos desafios que surgem quando se é admitido como professor em uma universidade.

B: O que mais o alegra em seu papel como professor?

ZD: O que sempre me motivou a ser professor foi a possibilidade de poder passar o conhecimento adiante, de poder compartilhar experiências vividas e de poder ser confrontado a todo o momento com novos problemas e situações. Hoje cada vez mais nos deparamos com um ritmo de vida muito intenso, pautado pela correria diária e pela velocidade das informações proporcionada pelos nossos dispositivos multifuncionais portáteis, dos quais não utilizamos nem 50% dos recursos embora os consideremos vitais… Acho isso um tanto quanto nocivo, pois não temos mais tempo para parar e pensar, e isso é muito sério, não paramos mais para observar ou entender como as coisas funcionam ao nosso redor, sequer olhamos mais para o céu. Pare e pense quando foi a ultima vez que você olhou para o céu a noite e observou as estrelas. Então, quando optei pela carreira docente senti que precisava fazer as pessoas pensarem mais sobre o que acontece ao seu redor, daí comecei a adotar um sistema de dar aulas baseado em experiências reais, cotidianas, que provavelmente alguma vez na vida o estudante já deverá ter vivenciado ou pelo menos presenciado. Utilizo em minhas aulas exemplos práticos do dia a dia, procuro traduzir a teoria em algo palpável, que seja real e que aconteça ou possa vir a acontecer algum dia, faço isso colocando os estudantes frente a situações verídicas e vou auxiliando-os de forma a encontrarmos uma melhor solução para o problema. Isso faz com que eles parem para pensar, pelo menos por um instante, e quando consigo isto sinto que estou no caminho certo, e esta é com certeza a minha maior alegria como professor.

B: Qual sua opinião sobre a CASa? Qual a importância da formação docente para o professor recém chegado à UFC?

ZD: Como já mencionei, considero o projeto CASa algo indispensável para os professores ingressantes, tanto pelo ponto de vista da inserção na universidade quanto pela oportunidade de interação com outros colegas de diferentes departamentos, que também se encontram na mesma situação. Devo dizer que o projeto me ajudou muito desde a minha entrada na UFC. A ambiência temática da qual tive a oportunidade de fazer parte (Cooperação e Interatividade) tinha um propósito simples, mas que funcionou muito bem para os professores que a compunham. A premissa era a de se promover encontros semanais entre os novos professores com o objetivo de expor as dificuldades encontradas por cada um, de modo que os demais pudessem ajudar ou sugerir soluções para tentar, de alguma forma, superar os problemas ou dificuldades pelas quais estávamos passando. Lembro-me que um dos problemas mais comentados era o fato de que os novos professores estavam sendo colocados para assumir cargos administrativos, tais como chefia de departamento ou coordenação de pós-graduação e isso nos enchia de medo, pois não tínhamos a menor noção de como lidar com cargos e responsabilidades como estas. Resolvemos então que o melhor seria bater o pé e não assumir nada logo de cara, e isso foi muito bom para mim, pois na época eu estava passando por uma situação semelhante e eu pude, com o apoio dos demais colegas da ambiência, tomar a decisão certa. Hoje vejo que não tinha o preparo e a maturidade necessários para assumir cargos como aqueles e sinto que a maioria dos professores ingressantes se depara com situações semelhantes a esta e que devido à inexperiência, ou falta de aconselhamento, acabam assumindo este ou outros compromissos que podem se tornar um grande problema logo no começo de sua carreira profissional.

B: Para além da vida no campus, quais são seus outros interesses, hobbies, etc?

ZD: Adoro cinema, video games e história em quadrinhos, estes são meus passatempos favoritos, não troco por programa nenhum uma boa pré-estreia no cinema, com direito a fila de espera e tudo mais. Já passei muitas noites em claro em partidas de jogos de estratégia no computador e sempre que posso fujo da literatura cientifica e mergulho de cabeça no mundo imaginário dos quadrinhos. Sendo assim, ficam aqui algumas recomendações para que também gosta desse universo… Assistam o filme dos Vingadores, joguem Diablo III e aproveitem a ótima safra atual de quadrinhos nacionais.

 

Entrevista realizada na data 23/05/2013 para coluna Spotlight do Breviário da CASa.