DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: OBSERVAÇÕES E REFLEXÕES

Sou professor do curso de Engenharia Química e em 2013 tive a oportunidade de participar do V Encontro de Docência no Ensino Superior na qualidade de avaliador de trabalhos. Foi uma experiência bastante interessante, tanto pela quantidade de trabalhos e estudantes envolvidos, como pela constatação à qual cheguei. Havia trabalhos de diversos cursos, inclusive de centros diferentes do meu. Em sua grande maioria os trabalhos correspondiam a atividades de monitoria ou esforços de grupos de alunos veteranos com seus respectivos orientadores para a melhoria do desempenho de outros alunos em disciplinas que se mostravam mais difíceis.

Apesar da diversidade dos cursos, todos os trabalhos apresentaram a mesma tendência – minha constatação – de que o rendimento dos alunos estava caindo ao longo dos anos. Alguns grupos já coletavam tais dados há mais tempo do que outros, mas um dado coincidia: a tal “queda de rendimento” iniciou-se com a implantação do ingresso pelo ENEM.

Apesar do meu pouco tempo de docência e de não ter experimentado esta forma de ingresso, já ouvi muitas vezes nos corredores que o “nível” dos alunos tem caído bastante e de forma preocupante. Por outro lado, também já ouvi falar que o ENEM dá mais oportunidade para mais gente ingressar na universidade. Confesso que desconheço a avaliação e seu mecanismo a fundo, mas meu ponto de reflexão é se estamos indo pelo caminho certo.

Ao presenciar discussões sobre o tema, algumas vezes um outro assunto vem à tona – o estímulo. Compreendo que deva haver empenho do professor para proporcionar uma aula mais atrativa aos estudantes, até mesmo nas disciplinas mais desafiadoras. Mas até que ponto devemos ir? Não seriam os estudantes responsáveis pelo próprio estímulo? A obtenção do grau após vencer todas as dificuldades não seria o estímulo primordial? Estas são algumas das perguntas que costumo fazer a mim mesmo neste meu início de percurso na vida docente.

Ao longo do semestre, cada vez mais frequentemente percebo que a grande maioria da turma não vem fazendo o “dever de casa”, dedicando algumas horas, ainda que mínimas, para a reflexão e absorção do assunto visto em sala. Apesar dos conselhos, preferem deixar acumular para os últimos momentos antes da avaliação. Os resultados não costumam ser bons, mas isso não é novidade para ninguém. O que me intriga é que mesmo sabendo das consequências, preferem deixar tudo para depois e continuar a repetir os mesmos erros.  A estratégia que muitos usam é pedir listas de exercícios e um tal de “direcionamento” para a prova. Acredito que a maioria dos professores já conheçam isso: passamos uma lista, se ela vale alguns pontos, alguns fazem e o restante apenas copia; se não tem pontuação, alguns fazem e o restante fica esperando que o professor resolva em sala. O que tem ajudado a incentivar um pouco os alunos é a aplicação de pequenos testes valendo nota ao fim de cada um ou dois capítulos.

Ainda sobre o estímulo, o curso de Engenharia Química vem observando bons resultados com a aplicação da metodologia de Aprendizagem baseada em Projetos em algumas disciplinas. A metodologia consiste basicamente em fazer com que os alunos pratiquem de forma ativa aquilo que veem em sala na elaboração de um equipamento. A atividade de projeto consome tempo e exige conhecimento que força os alunos a buscarem literatura e de fato estudar mais. Apesar de ser uma metodologia aplicável apenas em algumas áreas do conhecimento, acredito que possam haver adaptações para outros casos. Neste link é possível conhecer 7 projetos realizados em 2013:

Neste meu início de carreira, muitas dificuldades e dúvidas já apareceram. Tenho certeza que continuarão a aparecer. Compartilho aqui estas experiências e reflexões com o intuito de que algum dia elas possam ser úteis para alguém. O fundamental para mim e fato pelo qual me considero uma pessoa de sorte foi o amparo dado pelos meus colegas de trabalho com o compartilhamento de opiniões e experiências. Esse compartilhamento enriquecedor, muitas vezes também com a participação de estudantes, me trouxe informações que não acho escrito em local algum.

foto PROF MOISES-h150Prof. Moisés Bastos Neto

Departamento de Engenharia Química/CT
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