O estudante de Design-Moda da UFC e seu olhar sobre a produção artesanal

A observação da relação estabelecida entre designers e artesãos no contexto das intervenções voltadas para o desenvolvimento e atualização do artesanato no interior do Ceará gera uma série de questionamentos sobre o tipo de formação que vem sendo dada aos designers responsáveis por aplicar as metodologias de design na produção artesanal.

A partir de entrevistas realizadas com estudantes do curso de Design-Moda ao longo do ano de 2016, pode-se perceber que há, ainda, muita incerteza sobre a prática das intervenções no artesanato.

A maioria dos estudantes relatou que não está segura sobre o método de atuação junto aos artesãos e sobre as possibilidades e limites de seu trabalho com o artesanato. Pensando nisso, foi criada uma disciplina no curso de Design-Moda da UFC denominada: Pesquisa e Inovação em Artesanato, que tem como objetivo estudar métodos de intervenção no artesanato a partir das ferramentas do design, mas respeitando os limites e a capacidade produtiva dos artesãos.

Ao longo dessa disciplina, ministrada pela primeira vez em 2016.1, foi possível perceber que além da função de projetistas, os designers também assumem a responsabilidade de repassar conhecimentos relacionados ao design de produto aos artesãos a fim de que estes desenvolvam certa autonomia na realização de seus trabalhos.

Ou seja, o designer, além de projetar novos produtos, também atua como mediador na “transmissão” de novos conhecimentos aos artesãos e que, desempenha este papel, na maioria das vezes, sem se dar conta. É por isso que surgem muitos questionamentos levantados pelos estudantes como o seguinte:

Até que ponto o designer tem autonomia para desenvolver um trabalho de vanguarda? Até que ponto a nossa criatividade nos permite extrapolar alguns limites? Ou seja, como posso utilizar elementos que casem com o desejo do público da Ceart? (Ivanildo Nunes, designer, em 14 de agosto de 2013).
Temos várias funções pois temos que atender a vários desejos, o do público-alvo, do artesão, a questão social etc. (Patrícia, designer, em 14 de agosto de 2013).

No trabalho com o artesanato, os designers veem-se responsáveis por várias funções, mas não conseguem se situar em relação a elas, não conseguem definir aonde começa e termina seu papel de designer. Uma questão importante foi colocada por um dos estudantes durante a disciplina:

A gente não faz um curso de licenciatura, a gente não sabe nada sobre a construção do conhecimento humano, nossa formação é voltada para a lida com produtos e tudo o que tem a ver com ele. (Belchior, 20 anos, aluno do 2º semestre do curso Design-Moda UFC, licenciado em letras).

O estudante ressalta em seu depoimento que o desenvolvimento de produtos artesanais requer do designer um olhar que seja voltado para algo além das características do produto, ou seja, para a formação humana, uma vez que o resultado obtido com esse tipo de trabalho depende, prioritariamente, do tipo de relação estabelecida entre designer e artesão.

Desta forma, é imprescindível trabalhar tais questões junto aos futuros profissionais de design no contexto da universidade, a fim de que possamos dar novos passos no que se refere ao desenvolvimento de ações mais eficazes em seus efeitos e que, portanto, tenham continuidade.

 

Profa Emanuelle Kelly

Emanuelle Kelly Ribeiro
(emanukelly@gmail.com)
Docente do curso de Design de Moda – UFC
Graduada em Estilismo e Moda
Mestre em Sociologia
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará – UFC