USO DE MAPAS COLABORATIVOS COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA DE DIREITO URBANÍSTICO: CONSTRUINDO UMA CIBERCIDADE

A disciplina de Direito Urbanístico e Ambiental ministrada na Escola de Arquitetura e Urbanismo tem foco na avaliação crítica da aplicação da legislação urbana em Fortaleza, bem como a análise dos instrumentos adequados para solução de problemas urbanos. A compreensão do urbanismo como instrumento de inclusão social, redução da violência, indutor do desenvolvimento econômico e humano só alcança seus objetivos com a vivência e observação local. Para oportunizar a conexão dos conhecimentos teóricos e instrumentos de planejamento esculpidos no Estatuto da Cidade se faz necessário observar os problemas urbanos sob o foco do Direito à Cidade. A avaliação de conhecimentos interdisciplinares, que envolvem o conhecimento dos conceitos e instrumentos da legislação, os princípios do urbanismo e os problemas concretos da cidade exige uma ferramenta mais complexa e criativa, razão pela qual se estabeleceu a construção de um mapeamento como melhor instrumento síntese dessa abordagem interdisciplinar.

O trabalho de avaliação final da disciplina consiste na elaboração coletiva de um mapeamento digital colaborativo de um bairro da cidade como ferramenta para interação, desenvolvimento de problematizações e colaboração na aprendizagem sobre a realidade da cidade. O trabalho é elaborado em equipes orientadas por temáticas: Patrimônio Cultural (material e imaterial), Mobilidade, Zoneamento urbano e ambiental, Instituições e serviços e Moradia. Após levantamento e diagnóstico, cada equipe aplica em cada ponto levantado um QR Code (código de barras) que estará conectado ao blog com informações específicas sobre aquele ponto. O relatório e mapa do bairro estão reproduzidos no blog, com diagnóstico e explicação de cada ponto mapeado. É importante ressaltar que os alunos também podem mapear soluções, indicações de espaços verdes, indicação de possíveis ciclofaixas, bicicletários, calçadas, espaços de uso exclusivo de pedestres foram algumas das soluções já apresentadas.  Dessa forma, há a construção coletiva de uma cibercidade, com a interligação do espaço real ao conhecimento produzido no ciberespaço durante o semestre em observação crítica a cerca da aplicação do Direito à cidade.  Segue o link do trabalho: https://legislacaoufc20141.wordpress.com/

O mapeamento consiste numa ferramenta de síntese, propicia a construção de uma narrativa da cidade sob o olhar dos alunos e desvenda as informações acumuladas no semestre em uma plataforma imbricada à realidade cotidiana e aos problemas urbanos. Essa ferramenta, antes restrita apenas aos que detinham o poder e a técnica de elaboração de mapas, hoje torna-se um elemento democratizante ao induzir uma apropriação e compreensão do território e de sua complexidade.

O mapa constitui um sistema de gestão do conhecimento, pois permite de forma simples e acessível a elaboração de dados em conhecimentos. A colaboração, capacidade de pesquisa, inteligência coletiva são capacidades desenvolvidas na elaboração do mapeamento, características também exigidas na elaboração de políticas públicas urbanas. Ao aproximar o cidadão/estudante dos problemas ambientais e urbanos e ampliar a visão e interconexão de diversos fatores (poluição, paisagem, moradia, deslocamentos e mobilidade, legislação etc) facilita a descoberta de rumos para sua solução, bem como auxilia na identificação de parceiros e interessados. No livro Cidades sustentáveis, cidades inteligentes, Leite e Awad afirmam:

A democratização das informações territoriais com novos sistemas de tecnologia de informação e comunicação deve favorecer a formação de comunidades participativas, além de e-governance: serviços de governo inteligente e mais agéis, transparentes e eficientes , pelo compartilhamento de informações. Ou seja, as cidades inteligentes, smart cities, podem e devem alavancar a otimização da vida urbana, seja com serviços avançados na cidade formal, seja nas novas oportunidades nos territórios informais.(2012,p.9)

Os mapeamentos digitais urbanos são portanto, a construção de uma cibercidade. A cibercidade, cidade virtual ou smart city, atende a complexidade da vida urbana atual, com sua demanda crescente de informação, diversidade de serviços, rapidez e imediaticidade de respostas, além da multiplicidade de interesses que implicam em formas mais eficientes de processamento de dados e espacialização das demandas. A cidade é um artefato humano por excelência, fruto do design, desejo e projeto, e se reinventa. (Leite e Awad, 2012, p. 34) Tal contexto, aliado a urgência na implantação sustentabilidade, planejamento a longo prazo e continuidade da gestão participativa sintoniza com o conceito de Levy (2002) sobre a inteligência coletiva:   “o estabelecimento de uma sinergia entre competências, recursos e projetos, a constituição e manutenção dinâmicas de memórias em comum, a ativação de modos de cooperação flexíveis e transversais, a distribuição coordenada dos centros de decisão”.

A metodologia segue a construção da aprendizagem significativa, buscando reafirmar os laços dos alunos com a cidade e com os instrumentos jurídicos afirmativos de apropriação coletiva dos espaços urbanos. Os resultados demonstram um maior envolvimento dos alunos que realizam o mapeamento de forma lúdica e colaborativa, elaboram um vídeo narrativo do trabalho (um making off) como relatório para apresentação final, e propicia assim maior interação entre o grupo e a cidade.

Profª. Geovana Maria Cartaxo de Arruda Freire

geovanacartaxo@gmail.com