A DISCIPLINA DE DIDÁTICA APLICADA EM MÉTODOS DE REPRESENTAÇÃO

AnnaLucia-h150Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva

O objetivo deste texto é apresentar a Disciplina PC0208 Didática I, cursada com a Turma 03 no segundo semestre de 2014, ministrada pelo professor substituto Eduardo Américo Pedrosa Loureiro Júnior, do Departamento de Teoria e Prática do Ensino da Faculdade de Educação da UFC. Em paralelo ao relato subjetivo sobre a apreensão dessa disciplina, contarei como foram aplicados alguns de seus aspectos na disciplina optativa TG0162 Métodos de Representação, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, que ministrei no mesmo semestre.

Qual é seu sentimento? Pergunta o professor. Escrevo no caderno: “Ensinamento, estudo, Adélia Prado, AMOR”. Digo: tranquilidade e alegria. Sim, uma primeira aula capaz de trazer para meu arsenal de dezoito anos em salas de aula como professora um tipo de erupção afetiva. A abertura da disciplina ofereceu uma chave de ouro: o sentimento. Levei pra casa nessa noite um caderno e um coração novos, cheios de páginas e sentimentos a serem preenchidos por um mesmo desejo: aprender a ensinar. E o aprendizado começa no coração. Foi minha primeira lição.

No caderno, que guia esse texto, o tempo está marcado: “Temos um minuto para explicar o objetivo da disciplina. Pergunta. Pesquisa. Projeto conjunto. Auto-avaliação. Avaliação dos pares. Avaliação aula-a-aula do professor. Auto desenvolvimento”.

Tivemos que expor três coisas que queremos muito aprender: “1-) a ensinar melhor, 2-) costurar, 3-) manter a calma”. Desenvolvimento do projeto auto-ensino – a primeira linha da disciplina.

Três coisas que aprendemos e como aprendemos o que já sabemos? “1-) desenhar, 2-) cozinhar, 3-) rezar. Aprendi ao copiar, observar. Aprendi com minha avó, experimentando. Aprendi concentrada, ligada com o coração”. Daqui foram extraídos métodos ensino/aprendizagem que trazemos, que estão incorporados, fazem parte de nossa experiência de vida. Didática – a segunda linha da disciplina.

O que você acha que o cidadão de Fortaleza precisa aprender? “A respeitar seus iguais nas ruas. A ter atenção às pessoas ao redor”. Projeto cidadão – a terceira linha é cidadania.

Para casa: “1-) pesquisar uma resposta para a minha pergunta cidadania: como o cidadão fortalezense pode aprender a ter atenção com as pessoas ao redor?; 2-) escolher uma das coisas que quero aprender nos próximos três meses para o projeto auto-ensino; 3-) usar nossos “como aprendemos o que já sabemos” para pensar metodologias”.

As aulas eram quinta-feira à noite. Sexta-feira de manhã, a disciplina optativa de Métodos de Representação, que seria ministrada pela primeira vez no Departamento de Arquitetura e Urbanismo, estava sob minha responsabilidade. No primeiro dia de aula, como aprendi em Didática, abri meu coração aos dez seres humanos presentes. Sem ressalvas, todos aceitaram compartilhar a experiência por mim proposta: faremos juntos tudo que eu conseguir apreender da disciplina de Didática e traduzir para Métodos de Representação, da noite para o dia. E assim foi: Como estavam se sentindo, o que queriam aprender a representar, o que já sabiam representar e como aprenderam.

Minha escolha de auto-ensino em Didática foi como “ensinar e aprender melhor”. Eu tinha três meses para realizá-lo, com parâmetros de avaliação, como professora na disciplina de Métodos de Representação.

Para Didática estudei um pouco sobre “metodologia experimental, sobre maneiras contemporâneas de pensar o ensino/aprendizagem e suas aplicações práticas horizontais, no sentido de retirar a hierarquia professor/aluno e equalizar a troca dos diferentes saberes de todos no ambiente de ensino-aprendizagem”.

Em Métodos, começamos a ensinar uns aos outros o que sabíamos a partir de módulos e técnicas de representação por eles escolhidos e definidos assim: 1-) aquarela, 2-) modelagem tridimensional digital, 3-) modelagem tridimensional manual/material. Para cada um dos módulos convidei um professor do departamento especializado na técnica de representação. Eu fiquei com o último módulo.

De volta ao caderno: “no auto desenvolvimento quero aprender metodologias aplicadas às áreas criativas. Descobri que ensinar também exige muita criatividade, nunca fui tanto aluna e professora ao mesmo tempo como agora. Somos um.

Ainda no caderno: “Quais são os meios para identificar a avaliação dos alunos? Plano: 1-) Autonomia (ser independente); 2-) Disciplina (hábito); 3-) Registro (para a auto-avaliação). Nós inventamos nossa própria metodologia!”.

Quando eu tinha que responder algum questionamento que eu mesma tinha gerado dentro da disciplina de Didática, levava para Métodos e trazia respostas elaboradas em conjunto com os alunos. Por exemplo, em aula: – O que é experimentar? – Experimentar é conhecer. – Mas dá pra conhecer melhor se a gente se dedica.

Como resultado em processo, na apresentação de minha pesquisa em Didática sobre metodologia experimental, o texto foi esse:

Metodologias experimentais são modos de fazer que implicam em aprender, conhecer, verificar, corrigir, aperfeiçoar por meio de ações práticas. A prática é um embate, um diálogo ou uma dança com a realidade a ser aprendida, apreendida. É colocar a mão na massa. Fazer acontecer uma teoria. É trazer para o campo fenomenológico uma ideia. Materializar. Concretizar. Realizar. Dar corpo, forma, tempo, espaço e vida ao que se quer aprender.

Metodologias experimentais absorvem o acaso, o erro, o inesperado como formas de aprendizado. Para tanto é preciso atenção, concentração, flexibilidade, abertura, paciência e ouvidos precisos. Precisamos ouvir a realidade da própria experimentação. Ouvir nossos sentimentos. Identificar em si um observador paralelo que possa estar imerso e, paradoxalmente, vivenciar a experiência com um distanciamento analítico, capaz de ampliar os parâmetros de referência da coisa experimentada. É bom não trazer muita expectativa para ser um bom espectador.

Só teremos algum domínio sobre o que experimentamos quando obtivermos uma gama significativa de verificações sobre seus aspectos e elementos. Quando nos sentirmos familiarizados.

No método experimental somos dominados, absorvidos e, com sorte, absolvidos por aquilo que queremos conhecer ou criar. Somos, com ainda mais sorte, a própria experiência viva.

Percebi ao longo da experiência de tradução de Didática para Métodos que enfatizei mais as duas primeiras linhas, de auto-ensino e de didática. O auto-ensino se refletiu nos processos de desenvolvimento específico, que cada aluno propôs individualmente e apresentou as etapas de evolução ao longo da disciplina. A transposição da linha didática foi abordada pelos módulos de técnicas de representação específicas, que os alunos em consenso escolheram aprender e aprimorar entre eles e com os professores que aceitaram o convite de cooperar com o processo. Chegamos a elaborar uma proposta de composição conjunta para montar em um espaço público, ou no pátio do departamento, mas os próprios alunos pediram para usar o tempo que seria dedicado a esta atividade nas outras duas.

No trabalho final da disciplina de Métodos de Representação, além do caderno e da apresentação do auto-ensino, trabalhamos no módulo de representação tridimensional material com a realização de uma máscara. Cada qual elaborou um molde de gesso de seu próprio rosto, depois “se representou” a partir de interferências com argila e papel machê no molde. Foi mais de um mês de aula no pátio, com as pessoas de passagem curiosas e interagindo.

Como auto-avaliação da experiência nas disciplinas de Didática e de Métodos de Representação, trago o estímulo de continuar a acreditar e investir no querer do aluno e no meu próprio. Reconheço melhor a importância da liberdade, da transparência, da permeabilidade, da experimentação, da confiança, do respeito ao sentimento, do compromisso, da interação, da abertura e da sensibilidade. E aprendi que ensinar é dar espaço, incentivar o desenvolvimento e a consciência do que se é, para chegar ao que se quer, com o coração, verdadeiramente.