A VIOLÊNCIA E O DESRESPEITO DE PAIS E ALUNOS PARA COM O PROFESSOR NO ENSINO DE BASE E SEUS POSSÍVEIS REFLEXOS NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO NÍVEL SUPERIOR

Outro dia, após conversar com uma professora da rede municipal de ensino, me deparei com uma questão importante em que nós, docentes dedicados ao ensino superior, não podemos fechar os olhos. Esta colega me relatou suas dificuldades na relação com alguns alunos e a violência na conduta deles, não raro ratificada e apoiada por seus pais e seus familiares, contando com a certeza da impunidade das instituições oficiais do Estado.

Agressões a outros alunos, porte de armas e ameaças aos professores, são condutas observadas no dia-a-dia dessas instituições. Parece haver a tentativa de trazer para a escola a certeza da impunidade externa, surgida tanto no seio familiar, pela falta de disciplina e pela desestrutura parental, bem como pela inércia dos órgãos estatais de repressão e controle social. As agressões aos professores surgem, particularmente, no momento de serem avaliados, pois não raro não se aceita qualquer disciplina que venha a contrariar o seu modo de agir e pensar, impondo o proceder de ser aprovado no “grito”. Tais condutas são também noticiadas pelos meios de comunicação social, não sendo nenhuma novidade.

Deve-se ressaltar que essas condutas não são obervadas apenas na rede pública de ensino, mas também na rede privada, sendo evidente que esta última conta com o poder econômico, além de possuir a força para “abafar” os casos, o que ocasiona a pouca divulgação acerca daquilo que ocorre no dia-a-dia das grandes escolas e corporações de ensino particulares.

Mas o ponto que me preocupa é que alguns desses alunos, que contam com a impunidade e com a falta de controle familiar, social e estatal, estarão no futuro nas universidades. E fatalmente esse modo de agir, especialmente o de ser aprovado no “grito”, fazendo uso de ameaças e agressões aos docentes, temperado pela falta de respeito a autoridade do professor, chegará na relação professor-aluno no ensino superior.

Os questionamentos que devem ser feitos são: Há alguma forma de se prevenir esse conflito? Surgindo o conflito, existe um modo para se treinar os docentes para saber tratá-lo de adequadamente? Nós, professores do ensino superior, estamos preparados para enfrentar tal situação? Logisticamente falando, a universidade pública está apta para enfrentar hipóteses de afronta ao seu corpo docente? O que dizer das normas universitárias e sua aplicação a tais situações?

É preciso que os docentes de nível superior estejam preparados para esta possibilidade e que se abra urgentemente o debate em torno desse assunto, devendo se pensar numa forma prática de treinar os professores para saber enfrentar adequadamente as condutas que não dignificam a relação pedagógica e que desrespeitam os professores e, consequentemente, as próprias instituições de ensino.

Imagem016-150x150Prof. Ms. Michel Mascarenhas Silva

Professor da Faculdade de Direito da UFC
Departamento de Direito Processual michelmascarenhas@ufc.br