EDUCAÇÃO, HORAS NÃO TRABALHADAS E MANIFESTAÇÕES

Assistimos um momento de turbulência no Brasil. O anúncio de uma série de medidas pelo governo federal, visando o controle de contas, inflamou o  país pois representa arrocho salarial, aumento de preço, etc. No meio desse furação de reações alguns clamam por “impeachman já” e outros por retorno a um Estado de exceção. É um movimento espasmódico típico de quem quer mudar, mas que não sabe como. Idealizam que a troca de um governante ou retorno a um regime militar seja a bala mágica (sem trocadilhos, por favor) para resolver todos os problemas. É como se em uma única tacada, todas as bolas caíssem na caçapa e o jogo estivesse liquidado. Para entender esse discurso, além do justo desejo imediato de mudança, é preciso reconhecer o desconhecimento sobre representação política. Que saudade das aulas de OSPB! .

Quem é que sabe como uma pessoa “vira” um deputado federal por exemplo ? Quais e quantos são os acordos, apadrinhamentos e financiamentos necessários ? Quais as empresas que financiaram o deputado que você, leitor desse blog, votou, ou mesmo o vereador? Quais foram os tratos feitos com as empresas privadas para que o candidato pudesse ter recurso para comprar a bandeira, o boné, a camiseta e o serviço de ficar em uma esquina balançando o estandarte da enganação ? Quem realmente sabe disso ou se interessa por isso ? Na semana passada, o presidente da câmara federal, em depoimento a uma CPI, leu os nomes e os valores que uma grande empreiteira ofertou a deputados de situação, de oposição, de centro, de cima e de baixo para suas respectivas candidaturas…Cifras que chegam perto de 1 milhão de reais para cada um dos interessados. Somente assim, em momentos de turbulência, essas notícias aparecem ou alguém se interessa, pois pelo menos para o caixa 1 é possível ter acesso a essas informações. Caixa 2, que é crime, já virou uma coisa do tipo: – Foi nada não, foi só caixa 2 e isso todo mundo faz né ? O financiamento privado das campanhas e partidos rouba a cena, camufla a democracia e põe em risco a ordem do país. E o congresso?

Mesmo estando absolutamente falida e equivocada a forma de representação política no país, a proposta de reforma política tramita por lá a passos de tartaruga e ninguém ouve falar disso. Para piorar, com pitadas de crueldade,  semana passada um senador, homem que pelo menos no papel, deve ser culto, informado, polido e que deve também levar para seus discursos tais adjetivos, proferiu a seguinte fala sobre educação em São Paulo:

Foram adotadas algumas medidas que, em si, poderiam ser boas, mas que ficaram por conta dos governos estaduais e municipais: o piso nacional de professores – na época, o Ministro Haddad prometeu que o Governo Federal pagaria, e não pagou – e a hora-atividade, que é a hora não trabalhada, supostamente para preparação de aulas, que, no Brasil, dependia dos Estados e dos Municípios. Pois não é que o Governo Federal fixou o piso mínimo agora de 25%? Em São Paulo, por exemplo, essas horas-atividade em que eram de 20%, passaram para 25%. Centenas de prefeituras tendo de contratar, inclusive, mais professores por causa dessa medida.

Em uma tacada só, para continuar na sinuca de bico que estamos, o senador disse que contratar professores é ruim. Disse ainda que planejamento, muitas vezes mais difícil que a execução de uma aula ou outra estratégia pedagógica, é HORA NÃO TRABALHADA.  E não ficou só nisso, disse que o planejamento é SUPOSTAMENTE para preparação de aulas, como se professores fossem inimigos do estado e que inventassem “coisinhas” para não trabalhar. Realmente estamos vivendo um furação,  mas é preciso estarmos vigilantes, independente de qualquer partido, independente de reforma política, pois a única saída para esse país tem como trilha a educação de qualidade e não educação como alguns pensam, inclusive o nobre senador, como um custo ao invés de um investimento.

 

Edson teixeira-h150Prof. Dr. Edson Holanda Teixeira

Professor Associado I
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
Faculdade de Medicina
Departamento de Patologia e Medicina Legal – Setor de Imunologia
edsonlec@gmail.com