A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DE SER MÉDICO

Vivemos em tempos sombrios, nos adverte Hannah Arendt nos ensaios escritos acerca de homens que movimentaram suas vidas num tempo histórico de muitas turbulências, no caso específico, na primeira metade do século XX (1).

Também podemos pensar o mundo contemporâneo em termos de dificuldades para que as escolhas dos homens, seus atos concretos alcancem alguma autenticidade e com ela, patamares elevados de dignidade humana.

Constrangimentos de toda ordem são constitutivos de qualquer época histórica, mas é forçoso reconhecer que em determinados períodos alcançamos a barbárie. Barbárie patrocinada pela pequenez humana que se espalha e inunda corações e mentes de tantos.

Tempos em que se impõe a necessidade de resistência/resiliência, da afirmação da potência de viver. Tempos em que descuidar da individualidade é o primeiro passo para afrouxar os referenciais éticos de nossos comportamentos sociais. No entanto, é necessário concordar com o psicanalista Jurandir Freire Costa acerca de uma das características centrais de nossos tempos: vivemos tempos de “desinvestimento cultural na ideia do próximo” (2).

Aqui, pretende-se partir do romance filosófico, “A Insustentável Leveza do Ser”, do escritor tcheco Milan Kundera (3), para pensar um dos problemas da condição humana, exatamente aquele concernente à temática da escolha individual, e no caso particular, a escolha da profissão médica. Vale dizer, o testemunho acerca dos constrangimentos por quais passa essa categoria profissional, profissão que tem no respeito e no cuidado ao outro que sofre, sua missão primordial.

O romance narra a história de dois casais (Tomas-Teresa; Sabina-Franz) que têm de lidar com a aventura de suas existências individuais ao mesmo tempo em que tentam reorganizar suas vidas atingidas em cheio pela invasão da República Tcheca pelos comunistas russos.

A abordagem é concernente ao personagem Tomas, neurocirurgião famoso, que vive na cidade de Praga num contexto de aniquilamento moral e de degradação da sociabilidade com delações, humilhações públicas, prisões arbitrárias, perseguições políticas.

Tomas entrara em conflito aberto com a burocracia comunista ao se envolver com a publicação de um texto na revista da União dos Escritores Tchecos, publicação com “alguma autonomia no interior do regime, e que falava de assuntos que as outras não ousavam falar publicamente” (p. 166). Escrevera, despretensiosamente[1], meses antes da invasão russa, sobre aspectos contraditórios do comportamento dos comunistas do país frente às desventuras totalitárias do regime soviético. 

[...] Aqueles que pensam que os regimes comunistas da Europa Central são obra exclusiva de criminosos deixam na sombra uma verdade fundamental: os regimes criminosos não foram feitos por criminosos mas por entusiastas convencidos de terem descoberto o único caminho para o paraíso. Defendiam corajosamente esse caminho, executando, por isso, centenas de pessoas. Mais tarde ficou claro como o dia que o paraíso não existia, e que, portanto, os entusiastas eram assassinos. Assim todos acusavam os comunistas: vocês são os responsáveis pelas desgraças do país (que está pobre e arruinado), pela perda de sua independência (caiu sob a tutela dos russos), pelos assassinatos judiciários! Os acusados respondiam: não sabíamos! Fomos enganados! Acreditávamos! Somos inocentes do fundo do coração! O debate conduzia a essa pergunta: seria verdade que não sabiam? Ou apenas fingiam não saber? Tomas acompanhava esse debate (como dez milhões de tchecos), e acreditava que haveria certamente entre os comunistas alguns que não eram assim tão ignorantes (deviam pelo menos ter ouvido falar dos horrores que tinham acontecido, e que não paravam de acontecer na Rússia pós- revolucionária). Mas é provável que a maior parte deles não soubesse de nada. E ele dizia para si mesmo que o problema fundamental não era: sabiam ou não sabiam? Mas: seriam inocentes apenas porque não sabiam? Um imbecil sentado no trono estaria isento de toda responsabilidade somente pelo fato de ser um imbecil? (p. 165).

O texto de Tomas, apesar de ter sido adulterado pelo jornalista-editor da revista, aludia ao comportamento dos comunistas locais acerca da verdadeira natureza do regime soviético, apresentando uma crítica velada ao comportamento dos comunistas locais por meio da mitologia de Édipo.

[...] Tomas se lembrou da história de Édipo. Édipo não sabia que dormia com sua própria mãe, e, no entanto, quando compreendeu o que tinha acontecido, nem por isso se sentiu inocente. Não pôde suportar a visão da infelicidade provocada por sua ignorância, furou os olhos e, cego para sempre, partiu de Tebas. Tomas ouvia o grito dos comunistas que defendiam sua pureza de alma, e dizia a si próprio: por causa de sua inconsciência o país talvez tenha perdido séculos de liberdade. Mesmo assim vocês gritam que se sentem inocentes? Como podem ainda olhar em torno de si mesmos? Como?! Não estão espantados? Vocês não enxergam? Se tivessem olhos deveriam furá-los e deixar Tebas![2] (p. 164)

A partir daí, Tomas é perseguido pelo serviço secreto soviético no sentido de persuadi-lo à retratação. Ele deveria assinar uma carta de retratação para seus superiores e estes encaminharam às autoridades tchecas. Logo que retorna de uma viagem a Zurique, Tomas assume sua antiga função no mesmo hospital de Praga.

Pouco depois foi chamado pelo cirurgião-chefe. (…) Afinal, meu caro colega disse-lhe, você não é nem escritor, nem jornalista. Também não é o salvador do povo, é um médico e um cientista. Não quero perder o seu concurso e farei qualquer coisa para que fique aqui. Mas é necessário retratar-se quanto a esse artigo sobre Édipo. Acha que é tão importante assim? “Logo depois foi chamado pelo cirurgião-chefe” (167-8).

(…) O cirurgião-chefe prosseguiu: É uma prática medieval exigir que um homem se retrate publicamente. O que quer dizer retratar-se? Hoje em dia não se pode retratar uma ideia, apenas refutá-la. E como, meu caro, retratar uma ideia é uma coisa impossível, algo de puramente verbal, mágica formal, não vejo por que você não faz o que estão pedindo. Numa sociedade regida pelo terror, as declarações não impressionam ninguém, já que são extorquidas pela violência; eis por que o homem honesto tem o dever de não dar atenção a elas, de não entendê-las. Digo-lhe, meu caro colega, que é do meu interesse e do de seus pacientes que você permaneça no emprego. Chefe, o senhor certamente tem razão disse Tomas, com ar infeliz. Mas… Mas? disse o cirurgião-chefe esforçando-se para adivinhar seus pensamentos. Tenho medo de sentir vergonha. – De quem? Você tem uma opinião tão alta assim das pessoas que o cercam para se importar com que pensam? Não, disse Tomas. Além disso, prosseguiu o cirurgião-chefe, asseguraram-me que não seria uma declaração pública. São burocratas. Precisam ter em seus dossiês alguma coisa que prove que você não é contra o regime, para poderem defender-se caso alguém venha recriminá-los por terem permitido que você permanecesse no emprego. Prometeram-me que sua declaração ficará entre você e as autoridades, e que não pretendem que ela seja publicada. Dê-me uma semana para pensar disse Tomas, encerrando a conversa (168-9)[3].

Tomas pensava ganhar tempo… Mas os fatos se precipitaram e alguns dias depois,

Foi procurar o cirurgião-chefe e anunciou-lhe que não assinaria (p. 173).

(…) e um pouco mais tarde, Tomas (o cirurgião-chefe apertou-lhe a mão com mais força ainda que da última vez; ficou até roxo) teve de deixar o hospital.

Primeiro, encontrou emprego numa clínica do interior a oitenta quilômetros de Praga. Ia para lá de trem todos os dias e voltava terrivelmente cansado. Um ano depois, conseguiu encontrar um trabalho mais cômodo, mas inteiramente subalterno, num dispensário de subúrbio. Não podia mais fazer cirurgias e trabalhava como clínico geral. A sala de espera ficava repleta, mal tinha cinco minutos para cada paciente, prescrevia-lhes comprimidos de aspirina, redigia-lhes atestados médicos e os encaminhava para consultas com especialistas. No seu entender, não era mais médico, mas um empregado de escritório (p. 173).

Certo dia, algum tempo após estar trabalhando no interior, Tomás recebeu, ao fim das consultas do dia, a visita de um homem que se apresentou como representante do ministro do Interior. Com muitas perguntas – em verdade, um interrogatório – o homem expressou sua verdadeira intenção:

Fez uma curta pausa e … prosseguiu com uma voz compungida: Mas diga-me, doutor, acredita mesmo que seja necessário furar os olhos dos comunistas? Não acha curioso que seja o senhor que o diga, logo o senhor, que devolveu a saúde a tantas pessoas? Isso não tem sentido protestou Tomas. Leia bem o que escrevi.Já o fiz disse o homem do ministério em tom desolado. E eu por acaso escrevi que era necessário furar os olhos dos comunistas? Foi isso o que todos entenderam disse o homem do ministério com a voz cada vez mais desolada. Se o senhor tivesse lido o trecho inteiro, como eu o escrevi, não pensaria tal coisa. O texto foi cortado. Como? disse o homem do ministério, prestando atenção. Não publicaram seu texto original? Eles o encurtaram. Muito? Mais ou menos um terço. O homem do ministério parecia sinceramente indignado: Não foi muito leal da parte deles. Tomas encolheu os ombros (p.174).

Mas a intenção do burocrata estava clara:

Pensamos no seu caso, doutor. Se se tratasse só do senhor, as coisas seriam simples. Mas devemos levar em conta a opinião pública. Queira o senhor ou não, seu artigo contribuiu para a história anticomunista. Não vou esconder que nos sugeriram até processá-lo por causa dele. Existe um dispositivo do código a respeito disso. Incitação pública à violência. O homem do Ministério do Interior fez uma pausa e olhou Tomas nos olhos. Tomas sacudiu os ombros. O homem assumiu um ar tranquilo: Nós afastamos essa ideia. Qualquer que seja sua responsabilidade, o interesse da sociedade exige que o senhor trabalhe onde suas aptidões são aproveitadas da melhor maneira. Seu antigo cirurgião- chefe lhe tem muita estima. E também nos informamos com seus clientes, O senhor é um grande especialista, doutor! Ninguém pode exigir que um médico entenda de política. O senhor se deixou envolver, doutor. E preciso corrigir essa situação. Por isso queríamos lhe propor o texto de uma declaração que deveria, em nossa opinião, ser colocada à disposição da imprensa. Em seguida, daremos um jeito para que seja publicada no momento oportuno disse ele, estendendo um papel a Tomas (p. 179)

Tomas leu o que estava escrito e teve um choque. Era muito pior do que aquilo que o cirurgião-chefe lhe exigira há dois anos. Não era apenas a retratação do artigo sobre Édipo. Havia frases sobre o amor à União Soviética e a fidelidade ao Partido Comunista, havia a condenação aos intelectuais que estava escrito ali queriam levar o país à guerra civil e, sobretudo, havia a denúncia da redação da revista dos escritores e em especial do jornalista da longa silhueta encurvada (que Tomas só conhecia de nome e fotografia), que havia deliberadamente deturpado o sentido de seu artigo, transformando-o num apelo contra- revolucionário; estava escrito que eles eram covardes demais para redigir um artigo assim e tinham se escondido atrás de um médico ingênuo (p. 179-8).

Após alguma sagacidade na negociação, Tomas não recusara categoricamente a proposta do Policial dando esperanças de que redigiria ele próprio um texto, ganharia tempo.

No dia seguinte escreveu sua carta de demissão. Supunha (corretamente) que uma vez descendo, por vontade própria, ao degrau mais baixo da escala social (como já haviam feito milhares de intelectuais de outras áreas), a polícia não teria mais poderes sobre ele e deixaria de se interessar por ele. Nessas condições, não poderiam mais publicar declarações supostamente assinadas por ele, pois não teriam credibilidade (p. 181).

(…)Tomas sentiu que não estava nada seguro de ter tomado a decisão acertada mas, sentindo-se já comprometido com ela por um voto de fidelidade, não cedeu. Tornou-se lavador de vidros (p. 181).

Tomas refletindo em relação às suas escolhas amorosas conclui que “fora empurrado para Tereza por uma série de acasos ridículos ocorridos sete anos antes (primeiro foi a ciática do chefe de serviço), que o encerraram numa gaiola da qual não havia como escapar (p. 182).  Nesse ponto, o narrador arremata:

Poderíamos, portanto, concluir que não havia em sua vida um es muss sein! uma grande necessidade. Na minha opinião, havia uma. Não era o amor, era a profissão. Não fora conduzido à medicina por um acaso ou um cálculo racional, mas por um profundo desejo interior. Se fosse possível classificar as pessoas por categorias, seria certamente a partir desses desejos profundos que as conduzem para esta ou aquela atividade que exercem durante a vida inteira (p. 182).

Aqui, é necessário pensar em como a literatura pode explorar determinadas situações ou contingências humanas. Tomas, um apaixonado por Medicina, experimenta ultrapassar os tempos sombrios que lhe sopram a consciência do trágico momento de sua existência. Escolhera a Medicina por um es muss sein, por um profundo desejo. Faz a escolha contingente de abandoná-la para se tornar na Praga vilipendiada pela invasão russa, um limpador de vidraças!

Kundera prossegue suas reflexões acerca do absurdo da existência humana que cria a intolerável leveza do ser: 

Um francês é diferente do outro. Mas todos os atores do mundo se parecem em Paris, Praga, e até mesmo no mais modesto teatro do interior. É ator aquele que aceita, desde a infância, expor sua vida a um público anônimo. Sem esse consentimento fundamental que na da tem a ver com o talento, que é algo mais profundo do que o talento não se pode ser ator. Da mesma maneira, o médico é aquele que aceita se ocupar de corpos humanos durante a vida inteira e com todas as consequências. E esse acordo fundamental (não o talento ou a habilidade) que faz com que ele possa entrar numa sala de dissecação no primeiro ano e terminar o curso seis anos mais tarde (p. 182).

Para finalizar, deixo propositalmente aberta, para o eventual leitor deste texto, as inspirações do escritor theco acerca das escolhas profissionais de seu personagem-chave:

A cirurgia eleva o imperativo fundamental da profissão de médico ao extremo limite em que o humano toca o divino.  Quando se bate com violência no crânio de um homem com um porrete, ele cai e deixa de respirar para sempre. Mas ele deixaria de respirar mais cedo ou mais tarde. O assassinato só fez apressar o que o próprio Deus providenciaria depois. Bem podemos supor que Deus previu o homicídio mas não a cirurgia. Nunca podia imaginar que ousaríamos mergulhar a mão no interior do mecanismo que ele inventou, embalou cuidadosamente com pele, lacrou e fechou para esconder dos olhos dos homens. Quando Tomas encostou pela primeira vez um bisturi na pele de um homem adormecido pela anestesia, depois cortou essa pele com um gesto enérgico, abrindo uma incisão regular e precisa (como se fosse o tecido inanimado de um casaco, uma saia ou uma cortina), ele sentiu uma breve mas intensa sensação de sacrilégio. Mas, certamente, era isso que o atraía! Era uma necessidade, um es muss sein! Profundamente enraizado nele, para o qual não contribuíra nenhum acaso, nem a ciática do chefe de serviço, nem qualquer fator externo. Mas então, como pôde largar tão depressa, com tanta firmeza facilidade, alguma coisa tão profunda? (p. 183).

Ser cirurgião é abrir a superfície das coisas e olhar o que se esconde dentro delas. Talvez tenha sido isso que despertou em Tomas o desejo de ver o que havia do outro lado, além do es muss sein! Em outras palavras, de ver o que sobra da vida quando o homem abre mão de tudo que considerara até então como missão (p. 185).

Com olhos de hoje e levando em consideração o desmoronamento do império soviético em 1989, sinto-me estimulado a propor a leitura de um excerto do poema drummondiano, “A flor e a náusea”, escrito em pleno calor da segunda grande guerra, mais um exemplar de nossos tempos sombrios. Como nos diz Affonso Romano de Sant’Anna no prefácio do livro A rosa do povo: (…) ler Drummond é mais do que um prazer poético, é também um sofisticado exercício de compreensão da própria vida e da irremissível perplexidade humana.

A flor e a náusea

(…)
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Referências bibliográficas

1. Arendt, H. Homens em temos sombrios. Tradução: Denise Bottmann. Companhia das Letras. 2008. 315p.

2.Costa, JF. A devoração da esperança no próximo. Folha de São Paulo. 22 de setembro de 1996.

3. Kundera, M. A Insustentável leveza do ser / Kundera; tradução de Tereza B. Carvalho da Fonseca. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. 57ª edição.


[1]Pouco depois o texto foi publicado na antepenúltima página, entre as cartas dos leitores. Tomas não sentiu nenhuma satisfação. Haviam-no chamado ao jornal para que aprovasse uma mudança de sintaxe, mas em seguida, sem pedir licença, tinham cortado tanto seu texto que suas reflexões se reduziam a uma tese fundamental (demasiado esquemática e agressiva) e não lhe agradavam absolutamente.

Isso aconteceu na primavera de 1968. (…) Quando a carta de Tomas foi publicada, houve um clamor: chegamos a isso! Já ousam escrever publicamente que temos de furar nossos olhos! Dois ou três meses mais tarde, os russos decidiram que a livre discussão era inadmissível no seu domínio, e mandaram, no espaço de uma noite, que seu Exército ocupasse o país de Tomas (p. 167).

[2] A história de Édipo é bem conhecida: um pastor, tendo encontrado um recém-nascido abandonado, levou-o ao rei Pólibo, que o criou. Quando Édipo cresceu, encontrou num caminho das montanhas um carro em que viajava um príncipe desconhecido. Os dois se desentenderam, e Édipo matou o príncipe. Mais tarde casou-se com a rainha Jocasta e tornou-se rei de Tebas. Não suspeitava que o homem que tempos atrás assassinara nas montanhas era seu pai, e que a mulher com quem dormia era sua mãe. Enquanto isso a sorte perseguia seus súditos, dizimando-os com doenças. Quando Édipo compreendeu que era o único culpado por esses sofrimentos, furou os olhos com espinhos e, cego para sempre, partiu de Tebas (p. 164).

[3] Tomas era considerado o melhor cirurgião do hospital. Dizia-se mesmo que o cirurgião-chefe, que estava quase se aposentando, breve lhe cederia o lugar. Quando se espalhou o boato de que as autoridades superiores exigiam dele uma retratação, ninguém duvidou de que iria submeter-se. Foi a primeira coisa que o surpreendeu: embora nunca tivesse feito nada que levasse as pessoas a duvidarem da integridade do seu caráter, estas se dispunham a apostar na sua desonestidade e não na sua virtude (p. 169).

ALVARO MADEIRO LEITE-h150Prof. Álvaro Jorge Madeiro Leite

Professor Titular de Pediatria. Departamento de Saúde Materno-Infantil
Faculdade de Medicina. Universidade Federal do Ceará
alvaromadeiro@yahoo.com.br