Profa. Tatiana Passos Zylberberg, Coordenadora do Programa Editorial da CASa

Breviário: Fale-nos um pouco sobre você: seu background acadêmico, interesses de pesquisa, responsabilidades atuais na UFC.

profa.Tatiana-h150Tatiana Zylberberg: Escolhi cursar Educação Física, especificamente o curso da UNICAMP, para buscar referenciais sobre os processos de ensino-aprendizagem que considerassem o corpo além da perspectiva cartesiana. Em meu percurso, acabei envolvendo-me, também, com estudos sobre mídia e comunicação (Mestrado, 2000) e debrucei-me nas possibilidades das inteligências humanas, considerando a dimensão sensível e a motricidade (Doutorado, 2007).

Entre as minhas atividades profissionais, ressalto os quatro anos de experiência no Instituto Rodrigo Mendes, onde tive a chance de acompanhar os desdobramentos de um programa sólido de inclusão, sustentabilidade e geração de renda (http://www.institutorodrigomendes.org.br).

Quanto à vivência docente, guardo inesquecíveis memórias dos nove anos que trabalhei na METROCAMP /Campinas/SP (atual Veris Faculdades – Grupo Ibmec). Nesta mesma instituição privada, fui também Coordenadora Pedagógica do ProVERIS (Programa de Qualidade e Responsabilidade Social (2006-2009).

Atuei como consultora do Instituto Sidarta-SP no projeto Real Beleza (Dove-Unilever) de 2005 a 2009, em três momentos diferentes: na elaboração do livro de fundamentação do projeto, na formação de educadores que atuaram em núcleos em forma de ateliês e como assessora na formação dos educadores do Programa Esporte Cidadão envolvidos no Projeto Real Beleza (para trabalhar estratégias para auxiliar na autoestima das crianças e adolescentes).

Você perguntou sobre meus interesses atuais na pesquisa.

Ingressei no Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES/UFC) em setembro de 2011 e fui agraciada com a oportunidade de trabalhar com uma equipe comprometida e competente. Junto com o Prof. Cavalcante Junior criei o Laboratório de Estudos das Possibilidades de Ser (LEPSER) no qual participam também os professores Marcos Campos (Coord. do Oré Anacã), Leandro Masuda, Eleni Henrique da Silva, Rejane Barontini e Adriana de Paula (Coord. do LAMAPA).

Minhas pesquisas estão relacionadas ao campo das possibilidades, seja a produção e utilização de diversas linguagens audiovisuais, quando investigo as contribuições ou impactos da mídia, na Educação Física e esportes; ou nos estudos sobre inteligência, aprendizagem e corporeidade.

Sou também Coordenadora da equipe de pesquisadores no Estado do Ceará no projeto temático, encaminhado à FAPESP, intitulado: “Produção do conhecimento em Educação Física: impacto do sistema de pós-graduação das regiões Sul e Sudeste na formação de mestres e doutores que atuam nas Instituições de Ensino Superior da região Nordeste”. Esta pesquisa inter-institucional conta com participação de pesquisadores de diversos estados brasileiros e de diversas instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, é uma iniciativa do Grupo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Educação – Paidéia e é coordenado pelo Prof. Dr. Silvio Gamboa da Faculdade de Educação/UNICAMP.

Estou envolvida em dois projetos de extensão que contam com o protagonismo e o comprometimento de jovens estudantes do IEFES (bolsistas e voluntários). O projeto Juventude e Internet tem como objetivo “final” produzir um site educativo, reflexivo e criativo sobre a Educação Física e temas contemporâneos diversos, colocando em debate, por exemplo, as marcas sociais (tatuagem e piercing), preconceito e estereótipos, moda e corpo. Os encontros presenciais acontecem às sextas-feiras, das 16 às 18h na sala 08 do IEFES e a participação é aberta ( juventudeeinternet@gmail.com e facebook.com/juventudeeinternet). O outro projeto de extensão que coordeno em parceria do Prof. Cavalcante Junior, é denominado: Círculo da Juventude, que surgiu com a ideia de proporcionar um espaço de vivência e de integração entre estudantes universitários e do ensino médio, onde se facilita a ambos os grupos, oportunidades de reflexão sobre assuntos de naturezas diversas, focados nas questões das juventudes atuais, suas capacidades, vitalidades e alegrias como forças revolucionárias de um povo criativo em devir. O projeto conta com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE). Os encontros semanais ocorrem às segundas-feiras, das 18 às 20 horas, no IEFES (circulodajuventude@gmail.com – Facebook: Circulo da juventude).

Desta forma, em relação às minhas responsabilidades atuais na UFC, divido criativamente minha carga semanal entre as atividades de docência na graduação, projetos de extensão e pesquisa, como ainda, a produção editorial da CASa.

B: Você é Coordenadora do Programa Editorial da CASa. Como tem sido essa experiência? Quais tem sido seus desafios e suas conquistas? Quais são os planos futuros do programa?

TZ: Assumi a Coordenação do Programa Editorial da CASa em março de 2012. Trabalho com a colaboração da jovem estudante de Letras, Aliny Portella, bolsista da PROGRAD. Nosso primeiro desafio foi agilizar a publicação de dois livros que estavam previstos desde 2011, pelos Coordenadores da CASa,  como uma das ações da Pró-Reitoria de Graduação da UFC na comemoração de três anos do projeto.

O desafio atual, assumido no Programa Editorial, é o lançamento em 2012 da coleção – Saberes Docentes – que tem dois livros no prelo. O primeiro livro intitula-se: “Cooperar é preciso, aprender é sentido: interinvenções no Ensino Superior”. Trata-se de uma coletânea com 14 capítulos na qual várias vozes narram fundamentações teórico-práticas para a formação docente e/ou compartilham experiências de ensino-aprendizagem significativas, por intermédio de interinvenções que valorizam e estimulam a co-autoria, o protagonismo e a convivência colaborativa (presencial ou virtual).

O segundo livro intitula-se: “A CASa Aberta: por uma Aprendizagem Significativa pelo Rádio”. Trata-se de uma monografia que foi defendida em 2011 por Mário César Matos de Freitas, orientado pela Profa. Andréa Pinheiro, que também escreveu o prefácio. Mário, o jovem estudante de Publicidade e Propaganda, elaborou um primoroso estudo que aborda a interface entre a comunicação e a educação, revela o significativo fazer comunicacional do programa de rádio CASa Aberta, como ainda, ressalta as múltiplas possibilidades criadas pela CASa que, dentre outros desdobramentos, promove enriquecedoras trocas entre docentes e discentes.

Quanto aos planos futuros do Programa Editorial da CASa, podemos revelar que estamos trabalhando no terceiro livro, que parte dos depoimentos de docentes que foram tocados e mobilizados “Graças à CASa”.

B: Pessoalmente, como você se envolveu com o Programa Editorial da CASa?

TZ: Recebi o convite da Pró-Reitoria de Graduação por intermédio do Prof. Cavalcante Junior, coordenador de Aprendizagem Significativa da CASa, para colaborar na divulgação das experiências inovadoras, exitosas e reflexivas dos docentes da UFC. Aceitei esta oportunidade com entusiasmo. Tenho experiência nesta área e muita paixão por livros.

B: Qual sua opinião sobre a CASa? Qual a importância da formação docente para o professor recém chegado à UFC?

TZ: Ingressei na Universidade Federal do Ceará em setembro de 2011 e fui imediatamente acolhida pela CASa. Talvez por ser filha de militar, ou por outras razões (que não cabe divagar agora), tenho uma instantânea sensação de pertencimento. Vir morar em Fortaleza, chegar à UFC, foi literalmente uma experiência de “voltar para casa”. De forma direta e indireta, velada e explicita. Talvez porque, ao tomar posse na Reitoria da UFC, conheci o “famoso palacete” onde minha avó materna tomava café da manhã nos domingos, já que era uma das netas da família Gentil.

A forma com que foi organizado o programa de formação docente da UFC, numa CASa coletiva, diversificada, sensível e instigante, trouxe-me de volta ao espaço da aprendizagem por imersão. É como se eu tivesse a chance de ser uma docente-discente em total entrega, algumas horas por semana. Tive a chance de interagir com professores de outros Institutos e Cursos. Outra experiência muito rica, pelo menos para mim, tem sido levar os estudantes de Educação Física às atividades da CASa de Filosofia, de Ciências e/ou de Religião. Expando para eles a fronteira da aprendizagem, possibilito outras escutas. Aprender junto é transformador!

Para mim, estar nas atividades da CASa é viver o sentido pleno de universidade e de formação permanente.

B: Fale-nos um pouco de seu trabalho como docente na UFC: como decidiu lecionar na UFC; quais disciplinas ensina; o que mais lhe alegra em seu papel como docente; quais seus desafios?

TZ: Durante todo meu percurso escolar, eu fui tomada por perguntas cujo tema envolvia sempre as diferenças humanas, principalmente, as diferenças na aprendizagem. Lembro-me das inúmeras vezes que saía chorando as aulas de ballet ou de piano, porque o lado esquerdo do meu corpo não acompanhava o direito. Aquilo me intrigava, achava que o corpo era um só e não fazia sentido ser bom na metade dele e ruim na outra. Outra coisa estranha era meu corpo achar mais fácil dançar jazz do que ballet. Ou conseguir um bom resultado nos 25m do nado peito e ser lenta para o nado costas. Assim que comecei a dar aulas de dança aos 14 anos e ia inventando formas de ensinar, não aceitava o laudo de dificuldade, para mim, era somente buscar um outro caminho, outra rota. Meus alunos sempre tiveram nome, história e voz, e eu fui me encantando com a infinidade de ideias criadas por eles, nas diferentes formas de aprender e avaliar.

Por razões pessoais não prestei nenhum concurso após terminar o doutorado em 2007, mas tinha como meta ingressar no Ensino Público. Uma certeza é que sairia de Campinas apenas para morar em Fortaleza. Quando, de repente, abriu uma vaga no IEFES/UFC, era a minha chance de voltar para a cidade onde fui concebida, de poder estar perto da minha família, poder ver o mar, cujas ondas sempre me levaram para passear.

Neste semestre ministro: (1) Fundamentos Filosóficos da Educação Física; (2) Fundamentos Sociológicos da Educação Física; (3) Ética e profissionalidade; (4) Corporeidade e educação (eletiva).

Não ensino apenas, minhas aulas são criadas para que os estudantes aprendam. Aprendam ouvindo, lendo, debatendo, criando, encenando, experimentando, compartilhando. Dou aulas com vários recursos. Chego de mala, literalmente, carrego ideias nas malas. Segundo a estudante Isabelle Maria, chego com as “malas das possibilidades”.

Escolhi a docência. Amo ser professora. Amo dar aula. A sala de aula ou qualquer espaço dedicado ao tempo de aprendizagem (como um jardim, num laboratório, etc) é para mim um profundo e significativo momento de presença. Saboreio o saber, junto com os estudantes. Preencho-me de contentamento quando se revelam e se descobrem. Tenho clareza de que atuo na formação de professores e isso torna meu papel ainda mais significativo. Por isso que, quando você pergunta sobre os meus desafios docentes, vem à tona uma sensação dupla: inquietude e completude.

Este ano, de 2012, conto com a parceria de dois bolsistas de Iniciação à Docência- PID, um remunerado e outro não remunerado. Ter a interlocução constante com os estudantes-monitores Marcos Aurélio e o Fabrício Leomar tem sido riquíssimo.

B: Para além da vida no campus, quais são seus outros interesses, hobbies etc?

TZ: Gente. Interesso-me muito por gente. Gente que anda nas ruas, que senta nos bancos, que passa correndo, que anda lentamente. Gente de todas as idades e territórios. Também adoro descobrir caminhos, estando a pé ou de carro. Lidar com a cidade onde moro, da mesma forma leve que faço quando estou viajando. Sair sem rumo e arriscar novos trajetos. Sou inquieta, não consigo deixar-me acomodar.

Tenho meu horário sagrado de correr na beira mar: seis horas da manhã. E, vindo morar em Fortaleza, ousei começar a aprender a surfar. Faço isso ocasionalmente, pelo menos, ainda. Aproveito a cultura que circula pelo Dragão do Mar e pelo SESC.

Pelo menos uma vez na semana preciso tocar os pés na areia da praia e deixar as ondas mudarem o ritmo acelerado dos meus pensamentos. Procuro criar momentos para contemplar o céu. Gosto de deitar no chão, dia ou noite e ver o sutil movimento do mundo. Gosto demais da sensação do vento tocando na pele, ainda mais, porque não é aquele vento gelado que por muitos anos senti, tanto no rigoroso inverno paulistano, quanto no mineiro frio da Serra da Mantiqueira.

Estar na UFC trouxe-me nova energia e estou seguindo este impulso para reinventar a minha vida dentro e fora dos muros universitários.

 

Entrevista realizada na data 23/05/2012 para coluna Spotlight do Breviário da CASa.