OPÇÃO PELA CARREIRA ACADÊMICA

Engenheiro eletricista trabalha em empresa de engenharia, com grandes projetos em hidroelétricas, subestações, indústria, etc. Ser professor, ou melhor, dar aulas seria uma atividade extra, secundária, porém jamais atrapalhar a atividade profissional principal. Dar aulas era um favor que os engenheiros faziam às Universidades para formar alunos”. Ser engenheiro de uma grande empresa era meu objetivo já quase concluindo o curso de engenharia elétrica na UFC. Detalhe: quase todos os meus professores das disciplinas de formação profissional eram engenheiros que davam aulas como atividade secundária.

Entretanto na contramão de meus desejos, ao concluir o curso de Engenharia Elétrica, e já atento a possíveis ofertas de emprego, fui convidado pelo Prof. Jesamar Leão de Oliveira, engenheiro eletricista e Professor Titular por excelência, e grande mentor do curso de engenharia elétrica da UFC, para ser professor colaborador da UFC. Convite que declinei de imediato pois queria ser engenheiro de uma empresa e não professor para “só dar aulas”. Porf, Jesamar logo reprovou minha atitude e disse que minha primeira atividade como professor seria fazer mestrado na Escola Politécnica da USP – SP. Este detalhe me atraiu pois “estudar na USP me tornaria mais engenheiro”. Na USP fiz inicialmente um curso de especialização, patrocinado pela Eletrobrás intitulado “Curso Avançado em Engenharia de Distribuição- CADIS” com duração de um ano – janeiro à dezembro de 1979. No ano seguinte continuei na USP fazendo minha dissertação de mestrado intitulada “Custeio de Redes de Distribuição por Computador”, concluída em julho de 1980 sob a orientação do Prof. Dr. Ernesto João Robba, grande mestre dos sistemas de energia elétrica e consultor de várias empresas de engenharia. Este período de 1,5 ano na USP foi decisivo para minha carreira acadêmica. Do pensamento, ao aceitar o convite do Prof. Jesamar, de deixar a UFC após dois anos de meu retorno do mestrado, vencido meu período contratual, despertei para pesquisa científica e já vislumbrando um doutorado.

De agosto de 1980 a julho de 1985, tive total envolvimento com o curso de engenharia elétrica da UFC. Como em todo curso novo e com carência de professores, lecionei várias disciplinas, mas sempre constante na área de máquinas elétricas. Ministrei as seguintes disciplinas: Conversão

Eletromecânica de Energia, Máquinas Elétricas I e II, Transmissão em Extra Alta Tensão, Medidas Elétricas, Sistemas Lineares e Materiais Elétricos e Magnéticos. Fui ainda Coordenador do curso a partir de agosto de 1982 e, com a criação do Departamento de Engenahria Elétrica – DEE em 1983, fui seu primeiro chefe, sendo indicado pro-tempore pelo Magnífico Reitor e eleito posteriormente pelos pares. Neste mesmo período, numa tentativa de dar um cunho prático à teoria de máquinas elétricas que eu tanto estudava e também aprendia por longas discussões com do Prof. Jesamar Leão de Oliveira na UFC e em sua residência, fiz estágios na SIEMENS em São Paulo e na WEG em Jaraguá do Sul – SC.

Em setembro de1985 concretizou-se o almejado desejo de fazer um doutorado. Com saída autorizada pelo DEE e bolsa da CAPES iniciei doutorado na Universidade de Tecnologia de Loughborough – Inglaterra, quando passei a ter os primeiros contatos com uma área que avançava nas máquinas elétricas e nos acionamentos industriais – Eletrônica de Potência. Além da necessidade de aprender o inglês escrito e falado, tive que, por aprendizado próprio, já que na Inglaterra não se faz disciplinas em um programa de doutorado, descobrir, estudar e entender sobre toda a grande área da eletrônica de potência, incluindo controle e as eletrônicas analógica e digital. Foi uma época de grande esforço, mas quero aqui dividir o mérito da aprendizagem com meu orientador Prof. Gordon John Kettleborough pelas longas discussões em seu gabinete. No final de 1986 foram propostos por meu orientador com a participação do diretor de pesquisa da instituição, Prof. Ivor Smith, dois temas de tese: desenvolver um conversor CC-CC para um tanque de guerra, dentro de um contrato que a universidade tinha com o exército britânico, ou resolver um problema deixado por outro aluno em um acionamento de um motor cc com aplicação industrial. Após longa discussão com meu orientador que tinha interesse na primeira opção, e grande dúvida entre o interesse técnico e a questão pessoal, e apesar do riso de discordância do meu orientador, optei pelo acionamento do motor CC.

Ao terminar o doutorado em 1990, retornei as atividades como professor da UFC, no DEE, passei a lecionar disciplinas de eletrônica de potência, máquinas elétricas I e II, conversão de energia e materiais elétricos, duas a duas a cada semestre, ficando somente envolvido com aulas no curso de graduação em

Engenharia Elétrica até final de1993. Neste mesmo período havia um movimento no DEE, entre os professores que retornaram do doutorado, para criação do curso de mestrado em engenharia elétrica da UFC. Este fato veio a se concretizar em 1993, tendo o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão da UFC autorizado o funcionamento do curso de mestrado a partir de março de 1994.

Hoje, analiso minha vida profissional, e posso afirmar: tomei a decisão correta. Sinto-me privilegiado por ser engenheiro, pesquisador e professor.

Fortaleza, 16 de junho de 2015.

 

Foto Pra CV antunes marco 2015-h150Fernando Luiz Marcelo Antunes

Prof. Titular do Departamento de Engenharia Elétrica – UFC