Em 2011 a CASa/UFC criou um espaço de homenagem aos Mentores de Docência. Nestes encontros, os docentes que atuam na UFC indicam e homenageiam os professores que marcaram positivamente suas vidas. Nestes encontros os Mentores homenageados compartilham suas histórias narrativas biográficas, inspirando uma ação docente comprometida e transformadora.

Mas o que é ser Mentor?

Bernadete Porto, professora da FACED/UFC que participou da criação destes encontros, nos fala sobre “ser mentor”.

  

Mentores de Docência

 

Profª. Drª. Bernadete Porto

bernadete.porto@gmail.com

 

A memória é o gênero que se atreve a dizer o próprio nome. A bibliografia diz-nos: és o que foste. O romance diz-nos: és o que fizestes. Mas a bibliografia, confissão ou romance requerem memória, pois a memória, diz Shakespeare, é a guardiã da mente. Uma guardiã, diria eu, que se radica no presente para olhar com uma face o passado e com a outra o futuro. A busca do tempo perdido também é, fatalmente, a busca de um tempo desejado. (Carlos Fuentes)

 

COM OS MENTORES,

OLHAMOS PARA A UNIVERSIDADE QUE EDUCA,

Para a VIDA QUE VALE,

Para a INTERAÇÃO QUE PROVOCA.

O lugar do mentor é semelhante a um cais de uma cidade: lugar de encontros, de despedidas, de chegadas e partidas. Onde trocamos as malas, as falas e só embarcamos com as experiências que validamos na sabedoria. É o aportar do sim!

Com os mentores, não chegamos sozinhos ao presente, tampouco deixamos de acolher os que chegam depois de nós. É o tempo do encontro, é o olhar da construção e da troca.

Sim, a mentoria requer memória, requer o olhar que entende a complexidade dos fatos, a fatalidade dos atos, o contexto das ideias e do conhecimento que se propõe e se propaga. É a ponte que falta para ressaltarmos a sua autonomia, é a passagem dos docentes pela gratidão e pela honra. É o lugar da história.

Sim, nos encontros dos mentores de docência, aprendemos as melhores lições e somos capazes de perceber a diferença entre profissão e paixão, professor e educador.  Quem é educador, sabe que além de profissionalizar-se o docente necessita está comprometido com a aprendizagem dos seus estudantes e, neste mérito, enraíza sua função.

O mentor é um educador! Ele planta esperanças, enraíza-se no mundo e o tenta mudar. (enraizar – prender, fixar)

Sabe que os desafios cognitivos são possibilidades de vinculação dos conteúdos à sociedade e às motivações dos estudantes em aprenderem. Compreende que o erro faz parte do processo de descoberta e desfrute dos conhecimentos e, por isso, o toma como uma etapa na caminhada epistemológica a qual nunca termina.

Os mentores percebem, facilmente, que há uma rede de saberes dentro de uma instituição de ensino e valoriza, no ato pedagógico, o envolvimento de todos os profissionais que ali trabalham independentemente da função.

Sabe, acima de tudo, que o processo educativo é essencialmente interação. Gosta muito de ouvir, de compartilhar histórias e vê, na ciência e na arte, a criatividade humana. Espelha-se nos valores e ideias que defende em sala, e deste modo torna-se um sujeito que está em permanente desenvolvimento. Assim, é capaz de renovar os seus próprios saberes e de julgá-los irrelevantes, ultrapassados, parciais.

O mentor, pelo que aprendi, percebe que, quando ocorre aprendizado, os estudantes estão capacitados a responder a muitos instrumentos de testagem ou certificação de conhecimentos. Mas nem sempre o fato de tirarem boas notas indica que aprenderam. Daí crê que é no debulhar dos processos onde se descobre a importância e magia do conhecimento sobre a realidade física e social. Por isso, acompanha e avalia todo o processo de ensino, não se apega somente ao momento de certificação e de resultados.

Ele emociona-se com o poder que a inclusão traz a um sujeito. Reconhece especificidades, ritmos, deficiências e desejos de cada aprendiz e os coloca na base do ensino, rompendo com qualquer ideia de ensino simultâneo e por homogeneidade. Assume a heterogeneidade como única possibilidade de se trabalhar a educação das pessoas conjuntamente.

Entende que educar é um ato político que precisa ser gerado em sonhos de mudança, em apelos pela vida digna, em esperanças e gritos de alegria por realizações. Compreende que o papel de democratização de informações e dos conhecimentos reservados às instituições educativas é um papel político e de forte impacto na sociedade, quando bem desenvolvido. Sofre quando esta função não é bem cumprida ou quando toma conhecimento de índices de analfabetismo ou insucesso escolar. Toma para si as questões sociais envolvidas nos fracassos expressos na escolarização e indigna-se com as injustiças do mundo. Move-se pela esperança e nunca desiste.

HOMENAGEM AOS MENTORES

Mentores de Docência

Discursos de Homenagem

Discurso da docente Nataly Gurgel Campos, professora da Universidade Federal do Ceará – Faculdade de Medicina/Curso de Fisioterapia, que homenageou sua Mentora Profª. Ms. Fabiane Elpídio de Sá no dia 10/05/2013

Profª. Ms. Fabiane Elpídio de Sá – Fisioterapeuta, Coordenadora e Docente do curso de Fisioterapia da UFC, Especialista em Desenvolvimento Infantil, Mestre em Saúde da Criança e Adolescente- UECE, Doutoranda em Educação- UFC.

De certa forma, é difícil e ao mesmo tempo fácil falar para quem e de quem a gente tanto admira. Mas como assim?  Difícil, pois o grande desafio é fazer com que a pessoa homenageada entenda exatamente o que a gente quer dizer quando, de fato, não encontramos palavras que possam expressar tamanha admiração e gratidão.

E a parte Fácil está relacionada com o fato de que quando falamos de alguém especial para nós, às palavras fluem de maneira natural, sem reservas, do coração. E hoje, agora, eu apenas estou falando para a prof. Fabiane o que eu sempre senti e que por algum motivo, ou falta de oportunidade ainda não havia feito.

Tive o prazer de conhecer a Prof. Fabiane Elpídio, ou simplesmente Fabi, como ouso chamar, no sexto semestre da minha graduação em Fisioterapia. Ela ministrava a disciplina de Neonatologia- Pediatria e Gineco-obstetrícia, se não me falhe a memória. Lembro- me como se fosse hoje dos comentários que os outros alunos faziam sobre a tal disciplina. Cheguei ansiosa e preocupada no primeiro dia de aula, pois na época não gostava muito dessa área da fisioterapia, antes mesmo de saber do que de fato se tratava.

Foi então, que me deparei com uma Professora de jeito meigo, atencioso, que olhava nos olhos. Que repetia inúmeras vezes o conteúdo até o aluno entender. Professora sempre disposta, com seu jeito didático de dar aula e falando de forma paciente e entendível. Até o conteúdo mais chato se tornava interessante de estudar, pois ela fazia com que o enxergássemos de outro modo.

Passei a admirá-la e tê-la como referencial. Tanto em relação à assistência- como fisioterapeuta, pois sempre me encantou a forma com que ela atendia e demonstrava amor àqueles recém-nascidos tão frágeis e carentes de cuidados. Mas também em relação à docência, porque eu reconheci e enxerguei naquele semestre, naquela disciplina, a professora que eu queria ser quando “crescesse”, que eu teria como exemplo para um dia chegar à docência em um curso superior de fisioterapia.

Em uma determinada tarde, já no final daquele mesmo semestre, eu estava andando pelos corredores da universidade com as amigas quando a prof. Fabiane parou e conversou um pouco com todas nós e já indo embora, virou-se para trás, apontou pra minha pessoa e disse: “Um dia você ainda vai para a área da pediatria e eu ainda vou te ver ensinando…”

 

Recentemente, ouvi a seguinte frase de uma pessoa muito próxima a mim que também é professora, ela disse: “A gente nunca sabe e talvez nunca saibamos qual real sentimento que nossas palavras ou ações provocaram ou provocarão no outro…”.

Pois bem, diante disso, o que posso dizer é que a frase da prof. Fabiane eu nunca esqueci e nem vou esquecer, pois foi a frase que me impulsionou a estar onde hoje estou, pois nela eu senti incentivo, credibilidade e torcida!!!  Como ela poderia falar que um dia eu iria ensinar se nunca havia comentado ali dentro da faculdade essa minha vontade? Como ela conseguia me enxergar na pediatria, se eu mesmo não conseguia, pois não era minha prioridade, nem a minha área mais afim? Só consigo entender tudo isso de uma única forma: É que independente de ser eu ou não, a prof. Fabiane conseguia enxergar cada aluno. Que sabia ter autoridade em sala aula sem ser autoritária, que sentia as necessidades do aluno e também incentivava sua potencialidade, que era próxima do aluno sem deixar perder o respeito que este tinha por ela, que acima de tudo ACREDITAVA no profissional que ela estava ajudando a formar. E que ela era assim por um grande motivo: ELA VEIO PARA ESSE MUNDO COM A VOCAÇÃO DE ENSINAR, POIS ELA AMAVA E AMA O QUE FAZ E ISSO É NÍTIDO. Foi então, que ao perceber isso, me dei conta mais uma vez de que se Deus realmente também tivesse me dado essa vocação, era na Prof. Fabiane que eu me espelharia.

Formei-me, trabalhei na área de pediatria, fiz especialização, Mestrado (inclusive um dos agradecimentos do mestrado foi destinado a prof. Fabiane, onde relatei a sua importância no meu amor pela docência), passei a dar aulas em curso de Graduação em Fisioterapia ( Faço isso desde 2008) e perdi o contato com a professora Fabiane. Mas nunca a esqueci, nem a deixe de ter como referencial.

Agora, não mais como aluna e sim como Fisioterapeuta e Professora, pude enxergar o outro lado, o lado do docente e então, novamente, passei a admirar a prof. Fabiane, não é tão fácil formar fisioterapeutas agentes de mudanças sociais, que era justamente o que ela fazia na parte que lhe cabia de nossa formação.

Em 2011, a vida nos colocaria de novo próximas, fiz seleção para professor Temporário do Curso de Fisioterapia e passei. Logo que entrei no curso me deparo com a mudança da coordenação do curso e adivinha quem agora seria a nova coordenadora do curso: Prof. Fabiane Elpídio.

Eu estava completamente feliz e lisonjeada. Trabalhar com alguém que eu sempre admirei,  dividir módulo e ainda tê-la como minha coordenadora.

E aí mais uma vez a professora Fabiane, está sendo minha professora. Como assim?  Professora para a vida. Tanto a pessoal quanto a profissional.

Agora, trabalhando ao seu lado, pude conhecer um pouco mais dessa pessoa tão iluminada. Posso reconhecer nela inúmeras características, mas essas três se sobressaem: a humanidade, a humildade e a preocupação com o aluno e com o corpo docente que trabalha junto a ela. Dizer que ela foi e é fundamental para minha formação docente é perceptível, mas talvez o que ela ainda não sabe é que depois que passei a conviver com ela, nesses quase dois anos, me tornei uma pessoa e uma professora melhor.

Você todos os dias me mostra como agir diante de certas situações, nas suas atitudes observo como posso melhorar com os meus alunos, com sua forma de falar, lidar e respeitar as pessoas com as quais trabalha, aprendo a ser cada dia melhor também.

Que todo dia me mostra que a docência vai além da sala de aula, que nosso papel é muito maior do que simplesmente ensinar e formar fisioterapeutas, mas que pra fazer isso bem, precisamos AMAR, e queremos sim, formar homens e mulheres de bem nesse país, dentro da responsabilidade que nos cabe.

Agora, como docente efetiva do curso de Fisioterapia da UFC, o que mais almejo é continuar aprendendo, crescendo e trocando experiências com a Prof. Fabiane, pois sou fruto do seu amor pela docência. Amor que ela nos mostrou e fez transbordar em mim.

Em um dia como este não poderia fazer ao contrário, não poderia deixar de fazer você sentir e de te mostrar todo o meu agradecimento, minha gratidão, com esses simples dizeres, mas que foram palavras que saíram da alma com toda a verdade que tenho e sou.

Obrigada Prof. Fabiane por ter sido espelho, incentivo e exemplo para mim. Obrigada por você ser parte da minha história e obrigada por ter sido e ser minha professora.

Agradeço por hoje poder estar aqui, neste momento ímpar e ter a oportunidade de fazer com que você se sinta totalmente responsável por aquilo que cativou e que cativas: EU!!!

Obrigada, Nataly Gurgel Campos