Prof. Percy Galimbertti, coordenador da Ambiência “Saber e poder – reflexões filosóficas sobre trabalho interdisciplinar”

Breviário: Fale-nos um pouco sobre você: seu background acadêmico, interesses de pesquisa, responsabilidades atuais na UFC.

prof.percy-h150Percy Galimbertti: Sou formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1978), com Residência Médica em Psiquiatria (Instituto de Psiquiatria Social e Comunidade Terapêutica ENFANCE), Especialização em Saúde Coletiva, Mestrado em Ciências Sociais (Sociologia) pela PUC-São Paulo e Doutorado em “Political Economy and Public Policies” pela University of Texas at Dallas, reconhecido no Brasil como Doutorado em Ciência Politica pela Faculdade de Filosofia da USP.

B: Como surgiu a ideia da Ambiência Temática 09: Saber e poder – reflexões filosóficas sobre trabalho interdisciplinar?

PG: Desde minha formação na Faculdade de Medicina e minha Residência Médica em Psiquiatria tenho sido orientado para o trabalho em equipe e para a importância da cooperação interdisciplinar para melhor entender os problemas das pessoas, comunidades e sociedades em geral. Nesse aspecto, tenho sentido que ainda hoje existem muitas dificuldades de realizar um trabalho de fato interdisciplinar, colaborativo e horizontal. Com frequência percebo que existem relações de poder entre os membros de equipes de trabalho que deveriam se integrar e funcionar de forma igualitária, não hierarquizada. Essas relações de poder estão culturalmente estabelecidas e “justificadas” pelas diferenças dos saberes, que são naturalmente diferentes entre as pessoas de diversas categorias profissionais. Nas equipes interdisciplinares que atuam na área da saúde, prevalece e predomina o “saber médico”, apesar de, em teoria, se desejar uma participação igualitária de todos os membros da equipe. Daí surgiu a ideia de discutir as relações de poder-saber que permeiam (e atrapalham) o desenvolvimento do trabalho em equipe e das discussões interdisciplinares.

B: Quais os maiores desafios enfrentados pela AT09? E quais conquistas já foram alcançadas?

PG: Na verdade, o desafio principal é conciliar agendas e achar as datas mais apropriadas para confirmar a presença, tanto do convidado para falar, como para atrair a participação de professores, alunos e da comunidade em geral, como é a proposta desta AT. Realizamos um evento com apresentação e discussão da obra de Foucault sobre Saber e Poder, principalmente aspectos relacionados com Saber-Poder na Educação. Estou planejando um evento para este semestre, sobre o poder do saber (ou suposto saber) psiquiátrico, em suas relações com a doença mental e os usuários.

B: Fale-nos um pouco de seu trabalho como docente na UFC: como decidiu lecionar na UFC; quais disciplinas ensina; o que mais lhe alegra em seu papel como docente; quais seus desafios?

PG: Decidi retornar ao Brasil depois de quase dez anos nos Estados Unidos, onde estudei o doutorado e depois disso trabalhei como Cientista Pesquisador na Texas A&M University Health Science Center. Ao decidir voltar tive varias ofertas de trabalho, entre elas, da Secretaria de Saúde de Sobral, para me integrar ao trabalho em Saúde Mental do município. Na visita que fiz, conheci também a Faculdade de Medicina e fui informado das possibilidades de trabalhar como docente, através dos concursos que estavam por vir. Foi assim que decidi retornar ao Brasil e me integrar como trabalhador nas equipes de saúde mental de Sobral e participar de concurso para professor. Desde o ano 2009 sou professor efetivo do curso de Medicina, campus de Sobral. Sou responsável pela disciplina de Psiquiatria (oitavo semestre), e colaboro em outras disciplinas da graduação. Além disso, desde 2010 faço parte do corpo docente do Programa de Pós Graduação em Saúde da Família (Mestrado Acadêmico), onde leciono a disciplina de Estatística aplicada às Ciências da Saúde. A interação com os estudantes e a percepção de estar contribuindo em sua formação, como futuros médicos e cidadãos é muito gratificante.

B: Qual sua opinião sobre a CASa? Qual a importância da formação docente para o professor recém chegado à UFC?

PG: Acho a proposta CASa bastante interessante.  Os novos docentes necessitam de orientação e parcerias para seu aprimoramento.  E o aprimoramento é necessário para estar sempre melhorando o que oferecemos aos alunos.

B: Como é a vida no Campus de Sobral? E para além do campus, quais são seus outros interesses, hobbies etc?

PG: Atividades culturais, porém, não faltam, e a agenda cultural é sempre recheada de bons eventos, que acontecem, principalmente no Teatro São João. Pessoalmente gosto de jogar xadrez, ler, e também jogar tênis (o que é meio difícil em Sobral pela falta de um local com quadras…)

 

Entrevista realizada na data 25/04/2012 para coluna Spotlight do Breviário da CASa.