Afinal, o que é experiência estética?

prof abimaelson Abimaelson Santos

 

Uma educação política que pratique a educação estética e uma educação estética que leve a sério a formação política terão de esforçar-se para alcançar uma consciência capaz de superar a diferença entre a esfera do estético e a do político no seu conceito de cultura.

Ingrid Koudela

A renovação dos saberes do teatro ocorre tanto a partir da transmissão de uma determinada técnica já estabelecida, quanto do questionamento exercido sobre ela, em geral, impulsionado pela necessidade de ampliar as discussões e gerar novos conteúdos ou, ainda, da vontade de trabalhar os já existentes por meio de novas experimentações. Assim, o choque dialético entre o conhecimento estabelecido e as novas formas de pesquisa sobre teatro e educação proporcionam uma investigação rumo aos saberes desconhecidos da estética teatral. Estes, aos poucos, vão se tornando um novo saber na medida em que são experimentados, discutidos, analisados e colocados à prova através de encenações, performances, intervenções urbanas, seminários, dentre outros eventos, uma vez que os conhecimentos, sejam os já estabelecidos ou os em construção, apenas são válidos quando compartilhados e/ou disseminados.

Compreende-se, portanto, que se torna necessária uma renovação periódica dos procedimentos que constituem as metodologias de ensino do teatro, para que este, enquanto forma de conhecimento que interessa a sociedade, mantenha-se interligado com o desenvolvimento cultural de seu tempo, pois isto garante tanto a solidificação dos novos saberes, do teatro, quanto o desenvolvimento e aprimoramento das técnicas já estabelecidas, gerando novas experiências estéticas.

Para Larrosa Bondía (2010), na sociedade atual existem dois sujeitos, um que é o “da informação” e outro que é o “da experiência”, e é possível identificar diferenças marcantes entre estes dois sujeitos.

O primeiro sujeito, o da informação, está cada vez mais presente na vida pós-moderna, é aquele que está informado sobre diversos acontecimentos, sempre atualizado, online, a par de todas as notícias e acostumado a dar opiniões. Em geral suas narrativas são construídas, minimente, a partir de datas, fatos históricos e notícias recentes, o sujeito da informação está antenado, sabe das coisas e facilmente flutua entre diversas conversas.

O segundo, o sujeito da experiência, é aquele que se deixa marcar pelas ocasiões, se propõe a ser uma superfície sensível que, diante de determinados acontecimentos, consegue refletir criticamente sobre os fenômenos da sociedade e está para além das opiniões que indiquem o certo ou o errado, ou que ilustrem um fato.

O sujeito da experiência, neste sentido, constrói seus discursos, minimamente, a partir das análises que faz das suas próprias vivências, consegue articular um pensamento praxiológico, onde há uma prática, uma teoria e uma reflexão avaliativa sobre teoria e prática.

Isto porque, para Larrosa Bondía a experiência, cada vez mais rara na atualidade, é aquilo que acontece no sujeito, que o toca e não simplesmente o que lhe passa ou lhe acontece, pois todos os dias muitas questões passam e acontecem na vida das pessoas, mas nem todas marcam ou se inscrevem significativamente em cada um, conforme adverte o próprio autor:

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspendera opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA BONDÍA, 2010)

Nesse sentindo, costumo pensar que a experiência, no campo da educação, seria um jogo heterogêneo de relações ativas que se tornam reflexivas diante de uma determinada prática e ocorre quando existe a experimentação de determinado fenômeno, tornando-se um mecanismo capaz de produzir e aprofundar os conhecimentos, pois, como diria Dewey (1959, p. 158): “sem algum elemento intelectual não é possível nenhuma experiência educativa”.

Busca-se, portanto, construir novos saberes a partir do contato com a obra de arte e da coabitação de valores, princípios e preferências culturais, o que pode levar a novas maneiras de se relacionar esteticamente com o mundo, uma vez que “a experiência procura integrar o que é estranho ao familiar, mas alargando e enriquecendo aquilo que até então constituía o limite do todo real possível” (GUIMARÃES, 2006, p. 16).

Assim, a experimentação pode ser considerada como a parte concreta da experiência. Isto sugere que, por exemplo, o simples contato com determinada tendência estético-educativa nem sempre é o suficiente para que se gere conhecimento e experiência em arte, pois compreende-se por experiência estética aquela que, a partir da experimentação vibrátil com a obra de arte, gera conhecimento, subsidia a formação humana e a construção das subjetividades dos estudantes (SILVA, 2010). De tal forma que, falar da experiência estética, neste contexto, é refletir sobre a influência do processo artístico na vida escolar dos estudantes, levando em consideração as questões éticas, políticas e estéticas da obra de arte.

REFERÊNCIAS

Larrosa Bondía (2010)

(SILVA, 2010)

(GUIMARÃES, 2006, p. 16)

Dewey (1959)