Prefácio de Recortes Existenciais

Escrever é fazer recortes, mas recortes que tocam os extremos, aqueles que ferem outras superfícies. Você acaba por ferir as extremidades dos mundos que te envolve e carregar para o texto suas interferências. Portanto a escrita é apanhado. Não pode ter pretensão alguma de querer dar conta do mundo. Olhe lá se conseguir dizer-se ou falar daquilo que se pretende. A escrita é vulnerável. Uma vez dita, a palavra torna-se indefesa. Aberta a qualquer crítica ou comentário. Pode até receber elogios, mas em geral, submete-se a recomendações sem fim. Mas não é bem disso que eu gostaria de falar. As brevíssimas introduções podem ser uma espécie de justificativa dos pequenos grandes medos, como publicizassem: “eu não sou um escritor, então sejam gentis e me poupem”. Em todo o caso, não consigo resistir a um velho prurido que me atormenta, minhas mãos formigam e meu coração palpita. Preciso escrever. Escrevo para livrar-me das insônias diurnas que não me deixam contemplar as nuvens que teimam em me seduzir desde a infância. Quem quiser ler, leia. Quem não suportar, passe adiante. Eu, depois que escrevo costumo não reler. Não tenho paciência suficiente para me atormentar tanto.

cléber domingos-h150Prof. Cléber da Silva

Departamento de Farmácia/FFOE
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