As contribuições dadas para o magistério pelo curso de didática do ensino superior promovido pela Universidade Federal do Ceará

Nos meses de abril a junho de 2014, a Universidade Federal do Ceará – UFC promoveu o curso de Didática do Ensino Superior, por intermédio da Divisão de Formação Profissional – DIFOP em parceria com a CASa. O curso tem uma grande importância, tendo em vista que, em regra, os professores do ensino superior não são orientados de forma técnica e dinâmica sobre os desafios no exercício desse magistério. De fato, diz-se para ensinar, mas não se diz como ensinar.

Mesmo os professores mais experientes tiram muito proveito de um curso dessa envergadura, porquanto a dinâmica social e as necessidades dos alunos mudam rapidamente, o que exige um olhar docente sempre atento e pronto para fazer as devidas adaptações. O que é didática? O que é o ensino e como ensinar?

Os temas tratados no curso foram dos mais variados e pertinentes, todos com resultados favoráveis ao melhoramento das técnicas de ensino. Logo na primeira aula, o curso surpreendeu pela forma como iniciou as atividades, especialmente para o entrosamento dos alunos, todos professores ou servidores-técnicos da UFC. O modo como as atividades foram feitas, com frases e ditados complementados de forma diversa do comum, sorteados previamente entre os participantes, indicou que é possível buscar meios diferentes para que os alunos se conheçam e se apresentem no início do curso.

Os temas que permearam o curso foram tratados com base em textos e na sua análise com ampla participação. Foram estudados, dentre outros, textos como “Trabalho docente: características e especificidades”, “Projeto político-pedagógico e currículo: explicitando conceitos” e “Planejamento: para além do burocratismo”, todos da professora Carmensita Matos Braga Passos; “Profissão professor ou adeus professor, adeus professora? Exigências educacionais contemporâneas e novas atitudes docentes” e “A produção de conhecimento em aula” de Vasco Pedro Moretto. Os títulos, conforme se observa, são dos mais pertinentes, e seu aprofundamento demonstra o nível atingido pelo curso e a importância, já frisada, dos assuntos debatidos.

No âmbito dessas discussões, decorreu o surgimento de várias outras matérias, como “nenhuma aula é igual outra, ainda que o conteúdo seja o mesmo”; “trabalhar o educador não apenas o conhecimento, mas também os aspectos afetivos, emocionais, sensitivos na relação aluno-professor”; “entender o ensino como prática social”; “autonomia do professor versus autonomia intelectiva do aluno”; “a crise de autoridade e sua chegada nas relações educacionais”; “os feudos curriculares”; e “os aspectos positivos e negativos da tecnologia no ensino”.

Dos debates e considerações, lembro outro assunto muito pertinente que é o de como lidar com alunos que sejam detentores de deficiência física. Se o como ensinar não é ensinado aos professores, muito menos é ensinado como devem eles lhe dar com situações de maior sensibilidade para a satisfação do interesse do aluno que tenha limitações que os demais não possuem. Ainda pior pelo fato de que a maioria das instituições de ensino não atua e não faz a sua parte para satisfazer as necessidades desses alunos especiais.

O mais importante foi a abordagem, por novos meios e temas, conforme demonstrado acima, de que a conjugação “eu ensino, tu estudas, ele aprende”, já se encontra ultrapassada. Mas hoje essa discussão se torna ainda mais complexa pela inserção das questões relacionadas à tecnologia, maior dispersão dos alunos, crise de autoridade e as necessidades emocionais e afetivas dos alunos.

O maior tema, a meu sentir, abordado no curso, foi o da produção de conhecimento em sala de aula, com a participação efetiva dos discentes, e não apenas pelo despejamento de matérias pelo professor como se este fosse o detentor do monopólio do saber. E essa produção democrática de conhecimento abre uma possibilidade de avaliação muito mais inteligente do que a da simples aplicação de provas.

O problema é que se deve reconhecer que existem determinadas disciplinas que não permitem essa dinâmica, tendo em vista o seu conteúdo dogmático e mais fechado. No entanto, mesmo nesses casos cabe ao educador ter a coragem para estabelecer métodos que permitam a participação dos discentes.

Não restam dúvidas de que o melhor modo de estimular o processo de aprendizagem é aumentar a participação do aluno, especialmente quando o corpo discente é mais qualificado e crítico. Abrir esse processo, estabelecer limites, trabalhos e metas, são mecanismos que podem ser utilizados para viabilizar essa participação, o que torna a sala de aula um ambiente mais propício ao aprendizado e mais interessante para todos os envolvidos.

Quando se faz a análise comparativa entre duas disciplinas, sendo uma preponderantemente expositiva, e outra dirigida pela participação dos alunos, nota-se que as afirmações de que o professor não deve monopolizar o conhecimento não é mero cliché, nem mera teoria. A prática, verificada pela alegria e entusiasmo dos envolvidos, mostra que a disciplina conduzida com a participação de todos detém maior índice de aprendizado. Os alunos não podem ser vistos como únicos destinatários do conhecimento, mas como participantes desse processo.

Não se desperceba a necessidade de que, além da participação dos alunos, devem eles receber não apenas atenção coletiva, mas também de forma individualizada, com o fim de ser atingido um grau máximo de aproveitamento por meio de empatia que por vezes está ausente na relação aluno-professor.

Um desafio que também foi enfrentado no curso foi a da atualização do conteúdo da disciplina em face da burocrática e demorada mudança para oficializar as modificações necessárias. Deve o professor, independentemente dessa burocracia, efetuar essa atualização de ofício? Tem ele essa liberdade? Me parece que essa liberdade existe e que deve o professor ousar. Porém, deve respeitar o núcleo e as diretrizes curriculares do curso e da disciplina, podendo acrescentar, de ofício, enquanto não se atualiza formalmente o conteúdo, a atualização necessária para o bem do aluno.

Questões como essas, expostas no curso de Didática do Ensino Superior, se mostraram importantíssimas para o meu aprimoramento no trabalho que exerço como professor. Fui ensinado acerca de temas nunca tratados, por exemplo, no mestrado que me habilitou para a carreira. Aliás, esse um aspecto que deve ser mencionado, ou seja, de que a pós-graduação stricto sensu deixa a desejar na formação efetiva do professor para ter “chão de sala de aula”. Daí a importância que um curso desse naipe, oferecido pela UFC, assume para a melhoria do ensino e para o amadurecimento da relação do corpo docente com o corpo discente.

 

Imagem016-150x150Prof. Ms. Michel Mascarenhas Silva

Professor da Faculdade de Direito da UFC
Departamento de Direito Processual
michelmascarenhas@ufc.br