ESTÍMULO PARA A LEITURA DOS TEXTOS INDICADOS

prof_hugo-segundo_curso-direito-h150Hugo de Brito Machado Segundo

Nas linhas que se seguem, não pretendo indicar um método infalível de ensino, muito menos sugerir sua superioridade em relação a outros. Sabemos que o progresso do saber é incompatível com a (equivocada) ideia de verdades, ou de certezas absolutas. Trata-se, tão somente, do relato de uma experiência até agora bem sucedida que gostaria de partilhar com os colegas professores.

Antes de ingressar na UFC, já exercia o magistério em instituições de ensino, e sempre enfrentei o problema de fazer os discentes lerem os textos indicados como complementação dos assuntos discutidos em sala, ou como preparação para essas discussões. Principalmente na pós-graduação em sentido estrito, em que não parece muito adequado que predominem as aulas expositivas, optando-se pelo uso de seminários e debates, os quais, geralmente, giram em torno de textos previamente escolhidos.

O problema, em tais casos, é que dificilmente os discentes leem os textos indicados. Isso faz com que venham ao debate sem uma pré-compreensão mais ampla do assunto principalmente, sem dúvidas. Afinal, só quem estuda tem dúvidas, por paradoxal que possa parecer. Lembro quando fazia a pós-graduação, como discente passei por isso e recordo o quanto era difícil ler os textos indicados. Muitas vezes lia mas, em algumas outras não, o que empobrecia muito minha participação nas discussões em sala de aula. Sem um incentivo adicional, é comum aparecerem outros compromissos mais urgentes, a leitura vai sendo deixada para depois. Chega o dia da aula sem que tenha surgido o “tempo” para que os textos sejam lidos.

É possível atribuir aos discentes a tarefa de iniciar os debates dividindo os temas (e os textos) entre eles. É uma boa solução, mas funciona apenas em parte. A tendência é que cada discente estude em profundidade o tema que terá de debater, esquecendo os outros. Afinal, só “vale ponto” a apresentação dele, e não as perguntas que fizer quando da apresentação do outro.

A solução para esse problema, que, como disse no início, tem funcionado, aprendi com o Prof. Luis Eduardo Schoeri, Titular de Direito Tributário da Faculdade de Direito da USP, com quem minha esposa teve aulas durante o seu doutorado. É a seguinte: se na próxima aula alguns textos serão discutidos, a apresentação rápida do assunto pode ficar a cargo de um discente, de um grupo de discentes, ou do professor, mas TODOS OS OUTROS têm que enviar ao email do professor, ou postar no SIGAA, um “fichamento cruzado”, que consiste em arquivo de word contendo no mínimo 3 perguntas em torno dos assuntos tratados nos textos e suas respectivas respostas. O discente deve criar as perguntas e respondê-las com base no conteúdo dos textos, inclusive citando ou transcrevendo parte dos textos nas respostas. As ideias contidas nos vários textos devem ser entrelaçadas nas respostas, daí o nome “fichamento cruzado”.

A remessa do fichamento cruzado deve ser feita por cada discente para o email do professor e de todos os demais colegas da turma até 3 dias antes da aula na qual os textos serão discutidos. Isso permite a todos conhecerem as opiniões uns dos outros sobre os textos, e não raro faz com que os debates comecem, às vezes até já bem acalorados, por email mesmo, antes da aula.

Para estimular a turma a fazer os fichamentos, eles compõem a nota a ser atribuída ao final do semestre. No caso da pós-graduação em Direito da UFC, peço aos discentes que façam um artigo científico em torno de um dos assuntos discutidos, e a nota desse artigo é somada com a nota que recebem pelos fichamentos (avaliando-se, predominantemente, a assiduidade, a pontualidade e a qualidade do material), para a formação de uma média.

O melhor dessa sistemática, porém, é ver que a imensa maioria da turma efetivamente lê todos os textos e já começa a ficar com dúvidas e a levantar questionamentos antes mesmo da aula, que se torna muito mais produtiva e animada com todos debatendo textos e ideias em relação aos quais já têm alguma noção. A aula torna-se o que realmente deve ser, principalmente na pós: espaço para debates, críticas e reflexões.