ORTOPEDIA X SALADAS

Dr. Maximiliano - para avaliar2-h150Maximiliano Porto

Uma difícil e cotidiana situação vigente em muitos domicílios é a tentativa paterna de convencer seus filhos a incluir saladas na sua dieta.  Embebidos em sua imaturidade, os pequenos não conseguem perceber a importância nutricional dos alimentos não muito saborosos e apoiam sua negação nas primeiras experiências negativas na ingestão daqueles espécimes. Ao comparar saladas a sorvetes, a imensurável diferença no mundo infantil se baseia em estímulos sensoriais momentâneos dos sorvetes sem os benefícios duradouros proporcionados pelas saladas.

Tal analogia pode se aplicar aos jovens estudantes de medicina que, maravilhados com a intrincada trama fisiopatológica cardíaca, por exemplo, não percebem a importância do estudo da ortopedia. Esta ciência é “de alto valor nutricional” quando se considera a formação do médico generalista direcionado ao atendimento primário em postos de saúde e emergências, já que vigora nas principais causas de sintomas nas estatísticas de motivos de procura a qualquer atendimento médico geral. Porém, é considerada periférica, e quase opcional pelos alunos, pois suas primeiras experiências com tal matéria são difíceis de “mastigar” quando comparadas aos fluidos ditames cardiológicos.

Tal dificuldade mastigatória dos acadêmicos de medicina é também associada a uma apresentação complexa do tema por professores especialistas, que do alto da profundidade de sua sapiência, muitas vezes não atingem o nível necessário aos iniciantes. Assim, os temas ortopédicos se tornam distantes, longínquos e, às vezes, considerados desnecessários pelos alunos.  Cabe aos professores, clarificar a importância epidemiológica das doenças ortopédicas e fornecer ferramentas nas quais os estudantes devem se apoiar para manejar tais pacientes. Uma vez percebida a facilidade de resolução da maioria dos casos primários, os alunos experimentarão a satisfação de ser responsável pelo alívio da dor de muitos e, dessa forma, passarão a degustar tais conceitos ortopédicos com maior facilidade.

A ponte percorrida pelos alunos, entre a confortável clínica médica e a distante ortopedia, pode ser construída por uma analogia de avaliações e condutas similares de doenças frequentes nas duas áreas.  Por exemplo, se utilizarmos o exemplo da gripe (representando os sintomas de vias aéreas superiores como os mais frequentes nas unidades básicas de saúde) e da lombalgia inespecífica (representando a segunda queixa mais frequentes nos mesmo ambientes), podemos fazer um bom paralelo. Isso é possível, se considerarmos que para ambas as condições, são instituídas medidas conservadoras como recomendações de repouso, uso de compressas e medicações sintomáticas. Em ambas não se indicam exames complementares e não se encaminha o paciente ao especialista de início, mas somente a depender da evolução.