Psoríase – Consequências além da pele

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Xinaida Taligare V. Lima

Professor adjunto de Dermatologia

Departamento de Medicina Clínica, Faculdade de Medicina

Universidade Federal do Ceará

O termo “psora”, de origem grega, significa descamação e é usado desde a antiguidade. Porém, a psoríase foi reconhecida como uma doença distinta somente no século dezenove. Em 1841, suas características clínicas foram diferenciadas das alterações da hanseníase, doença contagiosa associada a bastante estigma na época. Apesar de ser considerada uma doença dermatológica, a psoríase não possui alterações somente na pele, podendo estar associada a repercussões profundas, tanto articulares e sistêmicas, quanto psicológicas.

A psoríase é uma doença inflamatória crônica com manifestações cutâneas flutuantes que acomete 2-3% da população mundial. Nos Estados Unidos, a prevalência de psoríase diagnosticada é em torno de 3,2%. A doença é menos frequente em regiões de clima tropical e sua prevalência também varia entre diferentes grupos étnicos. No Brasil, a prevalência de psoríase na população foi de 1.3% em um estudo recente.

O início dos sintomas ocorre em média aos 33 anos e 75% dos casos ocorrem antes dos 46 anos de idade. Porém existem casos em que a psoríase tem inicio na infância. A maior incidência em pessoas relativamente jovens pode resultar em maior impacto na qualidade de vida do indivíduo, bem como levar a maior prejuízo econômico para a sociedade.

A grande maioria dos pacientes apresentam a variante conhecida como psoríase vulgar, na qual lesões vermelhas e descamativas simétricas estão distribuídas mais comumente sobre cotovelos, joelhos, couro cabeludo, regiões palmares e plantares, ou seja áreas comumente visíveis, contribuindo para que alguns pacientes percebam maior estigma e isolamento social. Aproximadamente 20% dos pacientes apresentam doença moderada a grave, com mais de 10% da área total de pele acometida. Além do aspecto visual, sintomas como coceira podem prejudicar significativamente o bem-estar dos pacientes, sobretudo quando as lesões são mais extensas, afetando também a qualidade de vida de seus parceiros e familiares.

Além do acometimento cutâneo, aproximadamente 25% dos pacientes desenvolvem inflamação nas articulações ou artrite. Os sintomas da artrite podem ter início somente após o aparecimento das lesões de pele e nem sempre são queixas espontâneas dos pacientes, possivelmente por não conhecerem a conexão entre as duas formas de apresentação da doença. Alguns pesquisadores acreditam que a apresentação da psoríase cutânea e a articular podem ser discrepantes, inclusive no que diz respeito a diferentes respostas a múltiplos tratamentos.

A psoríase pode ainda desencadear alterações sistêmicas. Há pouco mais de 10 anos, alguns estudos demonstraram um aumento do risco de doença cardiovascular, principalmente em pacientes com psoríase moderada a grave. Além disso, pacientes com psoríase grave têm risco aumentado de morte por doença cardiovascular quando comparados à população geral, sendo esta também a principal causa de morte nestes pacientes. Outras pesquisas observaram que doenças como diabetes, hipertensão, obesidade, infarto cardíaco, angina, doença vascular periférica e acidente vascular cerebral (AVC) ocorrem mais frequentemente em pacientes com psoríase.

Faz-se necessário que os pacientes com psoríase após diagnóstico clínico, sejam avaliados adequadamente, não somente do ponto de vista de doença cutânea e articular, bem como suas alterações psicológicas e comorbidades clínicas. As alterações metabólicas, se mal controladas, podem limitar as opções de tratamento, contribuir para diminuição da qualidade de vida, além de aumentar a morbi-mortalidade destes pacientes. A vermelhidão e a descamação das lesões de pele, deveriam ser como a “ponta de um iceberg”, funcionando como um alerta para as alterações internas, que não devem ser subestimadas, mesmo em pacientes jovens ou com doença leve.

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