Daniel Maia

Daniel Maia

Professor Doutor de Direito Penal da UFC.

Fortal e a folia dos crimes.

Na última semana foi realizada, em Fortaleza, a 26ª edição do Fortal, uma das maiores micaretas do Brasil. Indiscutivelmente, o evento é um importante fator de incentivo à economia da capital alencarina, a qual registra durante os quatro dias em que a festa ocorre recordes de ocupação na rede hoteleira, restaurantes lotados e tem o comércio informal de ambulantes incrementado na região que ficou conhecida por Cidade Fortal.

Entretanto, a alegria dos foliões nem sempre é completa, vez que junto com o incentivo à economia, a criminalidade também cresce com a realização do Fortal. Os mais diversos crimes são registrados e outros acontecem tão descaradamente que grande parte da população nem mesmo se apercebe da violência que está sofrendo. A começar pelos cambistas que tomam a Praça Portugal e as vias de acesso à Cidade Fortal, cobrando pelos abadás e ingressos da festa preços até quatro vezes maiores do que os oficiais, violando, sem nenhuma cerimônia, a Lei dos crimes contra a economia popular. Outros crimes acontecem durante a própria festa e podem ser vistos até com uma certa freqüência, ao vivo e por meio de vídeos nas redes sociais, quando pessoas são beijadas a força e, em muitos casos, sofrem algum tipo de ação mais violenta de natureza libidinosa, tal como apalpadas em partes íntimas. Igualmente comuns são as cenas de pessoas compartilhando e usando drogas ilícitas sem absolutamente nenhuma timidez ou medo de serem presas pelos policiais que, em geral, assistem passivamente a folia criminosa. A tolerância da polícia assusta tanto quanto os próprios crimes. Nesse ponto creio que ninguém viu um cambista sendo conduzido a uma delegacia ou um folião, daqueles que se orgulha de perante câmeras compartilhar um tubo de lança perfumes, ser preso? Sem contar os diversos crimes contra o patrimônio, como furtos e roubos contra foliões na saída e entrada do evento. O Fortal é sem dúvida um dos melhores e mais organizados eventos que o Ceará oferece para seus cidadãos e turistas. Contudo, precisamos nos conscientizar dos nossos deveres e cobrarmos punição para quem violar os nossos direitos. Caso contrário, não adianta pensar que o Direito Penal irá resolver, pois não vai. Se aceitamos o crime como consequência do evento é porque, nós, os cidadãos, estamos corrompidos.