Discurso de homenagem ao mentor de docência prof. Jesualdo Farias

Primeiramente, gostaria de parabenizar o projeto CASa por esta iniciativa em promover este encontro entre jovens professores e os seus mentores. Aproveito para manifestar o quanto me sinto feliz e honrado em ter a oportunidade de prestar esta justa e merecida homenagem ao Prof. Jesualdo, e digo com toda a certeza que não falo somente por mim, mas em nome de muitos dos que têm ou tiveram a oportunidade de conhecê-lo e que compartilham juntamente comigo o mesmo sentimento de gratidão a ele e aos seus ensinamentos.

Para render-lhe esta homenagem, peço licença para recordar um pouco de minha história nesta Universidade, pois a partir dela é possível entender e reconhecer a valorosa contribuição do professor Jesualdo em minha formação. Afinal de contas como diz a marchinha “Recordar é viver!”.

Bem, meu contato com o Prof. Jesualdo começou quando ingressei no Laboratório de Pesquisas fundado e coordenado por ele, em janeiro de 2000, o ENGESOLDA – Laboratório de Engenharia de Soldagem. Fui levado para lá por outro grande amigo e mentor (e outro merecedor de uma grande homenagem), o Professor Willys Machado Aguiar, que era professor do CEFET e na época estava desenvolvendo sua dissertação de mestrado. No entanto, o primeiro real contato com o Professor Jesualdo foi em março de 2000. Era uma tarde chuvosa e ele entrou no Laboratório e levou um grande susto. Lembro-me como se fosse hoje, o laboratório estava uma bagunça, graças a dois alunos que haviam passado o fim de semana no laboratório. Era caixa de pizza jogada sobre a mesa, cueca pendurada no cabo de vassoura, uma zorra. Ele deu uma bronca memorável neles, enquanto eu estático, imóvel, quase invisível, só observei. Nesse momento fiquei assustado e pude ver seu pulso firme.

Neste mesmo ano tive minha primeira disciplina com o prof. Jesualdo, “Introdução à Engenharia”. O objetivo era mostrar aos jovens estudantes o que os aguardava no futuro. Foi certamente uma experiência fantástica! Jesualdo com sua visão de engenheiro nos oportunizou tanto o contato com vários profissionais em sala de aula, bem como visitas a vários empreendimentos de engenharia. Fomos ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém, refinaria de petróleo da Petrobras, obras do Metrofor, e muitos outros. Podíamos sentir na prática o que representava ser um engenheiro e vivenciar como os ensinamentos que estávamos por receber em sala de aula seriam aplicados no dia-a-dia. Foi muito motivador e instigante.

Depois desta, outras disciplinas vieram tanto na graduação como na pós, mas uma em especial “Engenharia e Ciência de Materiais” foi, sem dúvidas, um divisor de águas. Entusiasmo em sala de aula aliado ao domínio sobre o assunto sempre foram pontos marcantes em suas disciplinas, demonstrando claramente sua grande vocação para o magistério. Embora eu já tivesse certo conhecimento sobre o assunto, por ter estudado no CEFET, pude ter contato com muitas outras informações que se somaram ao conhecimento prévio, e assim, pude consolidar uma decisão muito importante para o futuro, avançar no estudo da engenharia metalúrgica e de materiais.

Muitos outros colegas que cursaram as suas disciplinas também concordavam com esta opinião. Tanto que ao final de nosso curso de graduação, por decisão unanime da turma, Jesualdo fora escolhido paraninfo de nossa turma de graduação. E parafraseando Oswaldo Aranha: “O paraninfo é o professor a quem é incumbida a última lição e o amigo a quem cabe o primeiro conselho.”

O gosto pela carreira acadêmica também teve forte influência do professor Jesualdo. Iniciei minhas atividades no laboratório sem nenhum vínculo oficial, era um trabalho “voluntário”, pois naquela época não havia a quantidade de bolsas de iniciação científica que existem hoje (IC). Ainda assim, ao final do primeiro ano de graduação, todos nós bolsistas deveríamos escrever um resumo sobre o estudo que cada qual estava desenvolvendo, para submeter nos Encontros Universitários da UFC.

Lembro quando o Prof. Jesualdo ligou marcando um horário para se reunir conosco e corrigir nossos resumos. Nunca havia escrito nada com viés científico. Recordo que quando ele iniciou a leitura, meu texto estava tão ruim que ele fez um X sobre o mesmo. Explicou-me como deveria ser o resumo e me orientou que assuntos abordar no texto.

Refiz o resumo e o entreguei no dia seguinte em seu gabinete na Vice-Diretoria do Centro de Tecnologia da UFC, cargo que ele ocupava na época. Após muita tensão ele me mostrou o resumo com as suas correções. O papel branco com a impressão preta, agora estava parecendo o uniforme do Ferroviário, graças à grande quantidade de tinta vermelha acrescentada por suas correções. Mas por pior que estivesse, ainda assim ele fizera questão de me mostrar todos os erros, falhas e problemas que o texto possuía. Explicou-me as alterações e deu-me sugestões para melhorar a redação científica.

Neste momento eu poderia ter ficado triste e desmotivado com o acontecido. Mas pelo contrário, fiquei super empolgado, pois pude sentir o quanto era fascinante escrever sobre algo com o qual eu estava diretamente envolvido no desenvolvimento.

No ano seguinte, 2001, surgiu uma bolsa de IC, me inscrevi junto com outros alunos e para minha alegria fui o contemplado. Passei então a ser oficialmente bolsista sob a orientação de Jesualdo, e não mais deixei de ser até a conclusão de meu doutorado, dez anos depois. Neste mesmo ano, empolgado em aprender sobre as pesquisas no laboratório escrevi meu primeiro trabalho completo sob a orientação de Jesualdo, o qual sempre corrigia todos os erros, que não eram poucos. Entusiasta e visionário, Jesualdo recomendou que nós submetêssemos para concorrer ao prêmio de iniciação científica da UFC. Prontamente concordei.

Pois bem, para minha surpresa nós havíamos conquistado o 1° Lugar! Costumo dizer que nós garimpávamos pedras brutas no laboratório, enquanto Jesualdo com sua inteligência, experiência e ampla visão do conhecimento científico nos ensinava a transforma-las em algo precioso. No ano seguinte, repetimos a dose e fomos agraciados mais uma vez com outro prêmio.

Daí, já havíamos criado uma sintonia e, principalmente uma relação de confiança mútua, que foi se fortalecendo com o passar do tempo. Sob a sua orientação e com o apoio do Prof. Hosiberto Sant’Ana desenvolvi minha monografia e, novamente fui incentivado pelo professor Jesualdo a submeter o trabalho para o recém-criado “Prêmio Petrobras de Tecnologia”. De fato, Jesualdo tinha razão e nosso trabalho foi agraciado com o Prêmio Petrobras! Apesar disso, aprendi com ele que o mais importante não são os prêmios, mas sim a certeza de ter feito um excelente trabalho, digno, honrado, sendo o prêmio apenas uma consequência de toda esta dedicação.

Depois da graduação veio o mestrado, o doutorado, e ao longo deste período novos desafios e muitos aprendizados. Enquanto eu avançava em meus estudos, tive o privilégio de acompanhar brilhante progresso acadêmico do professor Jesualdo, seguido sempre com passos firmes. Contudo, mesmo assumindo os mais importantes cargos da administração superior, o professor Jesualdo nunca perdeu o contato com as raízes acadêmicas, fazendo questão de estar em sala de aula, em contato com os estudantes e orientando os seus alunos no laboratório.

E que estudante não se entusiasmaria com um professor brilhante e dedicado? Que pupilo poderia esquecer um professor que sempre esteve preparado para dar o seu melhor na transmissão do conhecimento? Que aprendiz não se motiva com a inquietação de seu mentor?

Hoje sou professor desta Universidade com muito orgulho, e tenho que creditar muito do que aprendi ao longo de minha carreira acadêmica a ele, seus iluminados ensinamentos e seus exemplos de dedicação. Não é a toa que ele, Jesualdo, está onde está, e certamente chegará muito mais longe. E isto não é nada além de pura competência!

Citando as palavras do dramaturgo Alemão Bertold Brecht:

“Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.

Certamente professor, o senhor é imprescindível!

Todavia, o melhor do Professor Jesualdo não está somente na sua capacidade acadêmica e na sua inteligência, mas sim na pessoa humana que ele é. Falo isso com total propriedade de quem tem a oportunidade de contar com a sua amizade e o seu companheirismo. Acrescento ainda o meu apreço e a minha deferência como cidadão, engenheiro, professor e amigo, firmada ao longo de todos estes anos ao acompanhar a sua brilhante trajetória.

Por fim, sou imensamente grato por sua generosidade em compartilhar comigo tantos valorosos pensamentos, seu talento, sua sabedoria, sem, contudo jamais pedir nada em troca além de empenho e dedicação. Agradeço ainda a Deus pelo privilégio de tê-lo colocado em meu caminho, e que este mesmo Deus possa lhe conceder ainda muitos anos com saúde, disposição, sucesso e conquistas, retribuindo com toda a felicidade que o senhor merece! Muito obrigado!

Prof. Cleiton Carvalho Silva

Engenharia Metalúrgica e de Materiais
cleitonufc@yahoo.com.br